Paixões da minha vida - Quelfes

Sempre fui moço de Olhão. Por capricho da divisão administrativa do meu Concelho vivo na parte da cidade que pertence à Freguesia de Quelfes mas sinceramente nunca liguei muito a isso. Durante toda a juventude a minha vida foi passada no eixo que vai da minha casa à Escola Secundária e daí à baixa de Olhão e à Ria Formosa. Nunca me preocupei muito em conhecer essa terra que era sede da Freguesia à qual pertencia, nem sequer me preocupou muito a necessidade de existência de uma Freguesia, além dos atestados que passava e do recenseamento que fazia.
Um dia tudo mudou, e ainda bem. À saída de uma reunião partidária um camarada que eu conhecia como o Presidente da Junta de Freguesia de Quelfes perguntou-me pela minha colocação e se continuaria exilado no norte ou se ia regressar a casa. Confesso que na altura a conversa me pareceu estranha, e ainda mais admirado fiquei quando fui convidado a integrar a sua equipa nas eleições que se avizinhavam.
Fui considerado e tratado desde o início como um bom quadro a desenvolver e a treinar para o que quer que o futuro reserve e só o meu desconhecimento inicial, aliado a colocações sempre afastadas de casa impediram de me envolver ainda mais na gestão autárquica de Quelfes.
Com o tempo aquele enorme manto de desconhecimento que me envolvia em relação à Freguesia que fora chamado a ajudar a gerir foi desaparecendo, e eis que chegamos ao dia de hoje, em que dificilmente consigo manter uma conversa com alguém sem falar na "minha" Freguesia.
Quelfes é mais antiga que Olhão, tendo aliás Olhão feito parte da Freguesia de Quelfes até à sua desanexação em 1695. É uma Freguesia com um amplo espaço rural e com uma cada vez maior área urbana, fruto do crescimento da cidade de Olhão. Quelfes já tem aproximadamente 14.000 mil habitantes, cerca de 60 km de caminhos rurais, 8 escolas do 1º ciclo e 3 EB 2,3 na sua área geográfica.
Depois, ainda há o que não aparece nas estatísticas. O nascer do sol num barco parado no meio da Ria Formosa quando até o silêncio soa de forma diferente. As amendoeiras em flor no Laranjeiro. Estar sentado na esplanada do Restaurante do Carmo ao final de uma tarde de Verão e sentir que o próprio tempo passa mais devagar. É tão linda a "minha" Freguesia.
E depois não são só os locais, há ainda e principalmente as pessoas. É um enorme prazer frequentar o mercado de Quelfes e ser cumprimentado por todas as caras conhecidas e também por muitas desconhecidas, e sentir uma honesta amizade. É tão terna a "minha" Freguesia.
Há ainda tudo o resto. Mais de 5 anos de participação na gestão de Quelfes. As inúmeras reuniões, as incontáveis horas passadas. As vitórias e derrotas diárias, o sabor amargo de objectivos não atingidos e a indescritivel alegria de obras trazidas à luz do dia. Entre o agradecimento de pessoas cujos problemas resolvemos e a angústia de situações que estão para além do nosso poder resolver, há um meio termo que corresponde à sincera sensação de estar a dar o nosso melhor para melhorar as vidas de quem nos rodeia. Por muito que viva, onde quer que vá parar, o que quer que consiga realizar, estes anos de experiência autárquica são um património pessoal que nunca esquecerei na minha vida.
Quelfes vai da Ria Formosa à estrada Estoi - Moncarapacho. Da praia dos Cavacos quase à rotunda do McDonalds de Olhão. Da zona da Alecrineira até quase ao Lagoão, ocupando cerca de 2100 hectares. É tão grande a "minha" Freguesia, mas bem aconchegada, consegue caber num cantinho do coração.

A Grande Sociedade

Faz hoje 42 anos que o Presidente Americano LBJohnson no discurso do estado da nação lançou as bases do seu programa legislativo que ficou conhecido como A Grande Sociedade. Aproveitando uma conjuntura política interna bastante favorável, com os Democratas a controlarem o Congresso e o Senado, LBJ levou ainda mais longe o New Deal de Roosevelt e criou um estado social sem paralelo na história Americana.
Nos quatro anos do seu mandato, dos direitos civis à saúde, da educação ao apoio à cultura, da imigração aos direitos dos povos nativo americanos, Jonhson imprimiu uma dinâmica legislativa que mudou a face dos Estados Unidos da América.
Johnson está na história pelo pior dos motivos, devido ao afundamento do exército Americano na infantil aventura do Vietname, mas para lá desse gravíssimo erro, está também aquela que foi provavelmente a mais progressista agenda política da história dos EUA.
Lyndon B. Johnson, merece certamente que o seu legado seja integralmente reconhecido, e não apenas a parte respeitante à guerra ridícula e suicidária que travou na península da Indochina.

Referendo ao Aborto

Desde que o Presidente da República marcou a data do novo referendo que começou a contagem de espingardas em ambos os lados da barricada. Até aqui, nada de novo nem de extraordinário, mas a campanha que se avizinha não me parece que traga algo de bom ou de construtivo ao debate.
Mais uma vez, a campanha contra a Interrupção Voluntária da Gravidez terá como ponta de lança a Igreja e os sinais já dados fazem prever mais um vendaval de demagogia infantil e de irresponsabilidade argumentativa.
Já circulam mails enviados em massa com o discurso retardado de sempre, e aposto que não faltará muito para as indiscritiveis fotos de abortos realizados. Para ajudar à festa, até já esse aspirante a Torquemada que se senta no trono papal comparou o aborto ao terrorismo para gáudio de muitos.
Sejamos honestos, considero o aborto como um drama pessoal e como uma decisão de uma dificuldade e complexidade que talvez não tenha parelelo na vida de uma mulher que por ele opte. Considero a maternidade como uma relação afectiva que se desenvolve entre a futura mãe e o futuro ser que nela se desenvolve. Considero que o não desenvolvimento dessa relação é dramático e por muito que ache a interrupção da gravidez como antinatural, não me sinto na capacidade, na moralidade ou no direito de decidir se uma mulher deve ou não gerar uma vida que não sente como parte de si.
Sou contrário ao aborto, mas sou ainda mais contrário a uma lei que obriga as mulheres a serem meros instrumentos reprodutivos. Sou contra o aborto mas sou ainda mais contra a criminalização de mulheres que decidem que ninguém as deve obrigar a ser mães. Sou contra o aborto, mas existindo ele, como sempre existiu, prefiro que seja feito em hospitais públicos com segurança, do que em vãos de escada sem apoio, segurança ou condições de higiene.
Gostava de assistir a um debate sério mas não me parece que vá ter essa sorte. Gostava de ver debatida a educação sexual nas escolas, o acesso a consultas de planeamento familiar, as condições psicológicas das mulheres que optam por abortar e as feridas que tal decisão deixa, a capacidade do nosso sistema de saúde responder a uma possível discriminalização do aborto, mas nada disso acontecerá.
Lamento pelo facto mas desta vez, ao contrário de há 9 anos, não só votarei como participarei na campanha. Não será por mim que o " campo de batalha " ficará ocupado só pelos inquisidores mor da santa madre igreja e tenho esperança que mais uma vez haja um passo em frente no sentido de pararmos com a criminalização daquelas que têm a coragem de tomar a sua vida nas suas mãos e que possamos derrotar e varrer para o caixote do lixo da história este fascismo moral que continua a vigorar em Portugal.

Regresso

Pois é, depois de um prolongado afastamento, está na hora de regressar.
A todos um feliz 2007 !!!!

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