As três semanas de afastamento do blog não corresponderam a três semanas de afastamento da escrita. Esta nova coluna de “Passeios e Vagabundagens” é dedicada exactamente aos sítios por onde tenho andado ou por onde passei, e sobre os quais escrevi mas as férreas leis da preguiça adiaram a publicação.

Começo por Santa Clara de Sabóia. Aqui tenho uma das minhas histórias mais carismáticas. Numa madrugada de inverno de 1999, voltava eu de um fim de semana com a namorada no Porto. O comboio azul, como se chamava, saía da Campanhã às 21 horas e deixava-me em Messines por volta das 7 horas do dia seguinte. Nessa viagem adormeci, como de costume, só que dessa vez acordei subitamente com uma paragem do comboio. Acto reflexo, agarrei o saco e saltei porta fora, já com o comboio a arrancar. Enquanto respirava fundo, o meu cérebro começou a processar conscientemente o que me rodeava. Foi nesse momento que vi que onde devia estar escrito “Messines-Alte” estava escrito “Sta Clara de Sabóia”, e na direcção onde deveria estar a minha escola, estava um pocilgo.

A dimensão titânica da minha burrice atropelou-me à velocidade da luz e, enquanto vomitava impropérios contra mim próprio e inventava em voz alta metáforas para a minha estupidez, uma senhora aproximou-se. Depois de me perguntar o que se passava e de eu ter respondido, explicou-me que trabalhava na passagem de nível, que a casa dela era ali perto e que podia ir para lá para tomar o pequeno almoço com o marido e os filhos que deviam estar a acordar. Bem dito, melhor feito. Enfiaram-me pelas goelas abaixo um balde de cevada e umas tibornas tão quentes como maravilhosas. No final dessa experiência religiosa, enrolei-me numa manta e deitei-me num sofá onde voltei a adormecer. Por volta das 10 horas, já com metade da manhã de aulas perdida, meti-me numa automotora vermelha que se queixava de todas as articulações e se deslocava à velocidade das sinapses cerebrais da Lili Caneças e fui para Messines onde a rotina diária me esperava.

Júlia era o nome da Senhora. Nunca mais a vi, mas também nunca me esqueci dela.

 
Alfa Pendular - 27 /1 - 8h45

2 comentários:

Rsrsrsrsrs
Esta história é a tua cara.

22/2/10 18:01  

Não percebo qual a piada !

23/2/10 08:58  

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