A banheira de Arquimedes

A ciência também tem os seus mitos. Não basta o ritual do método científico que pouco significa, como também existem histórias quase mitológicas que funcionaram e funcionam como inspiração para gerações e gerações de cientistas.
Arquimedes pertence a esta galeria. Foi um matemático, astrónomo e inventor que viveu em Siracusa, então uma cidade Grega. Arquimedes foi o primeiro a calcular o número Pi, abriu as portas à hidrostática e à mecânica de fluídos e criou o princípio das alavancas, na sequência do qual produziu a famosa citação "Dêem-me um ponto de apoio que eu levantarei o mundo", citação essa hoje aplicada por José Mourinho sob a forma de "Dêem-me uma equipa de futebol que eu levantarei uma taça".
Agora a história de Arquimedes que virou um verdadeiro mito passou-se quando lhe foi colocado um problema quase insolúvel. Um manda chuva lá do sítio pediu-lhe que descobrisse uma forma de se certificar que a coroa em ouro que tinha encomendado era mesmo 100% ouro, ou se estava mafiada por metais mais baratuchos. Conta-se que um belo dia estava Arquimedes na sua banheira quando foi atingido pelo relâmpago da inspiração, ao que saltou banheira fora e desatou a correr nu pelas ruas de Siracusa aos berros "EUREKA, EUREKA". Este mito passa-nos a ideia que as inovações e descobertas científicas dependem muito da inspiração do momento, como se num instante mágico tudo se resolvesse nas esquinas perdidas das nossas sinapses cerebrais, como se raios de luz invadissem imparavelmente o caos de escuridão em que nos encontrávamos. Hoje em dia, tenho como opinião que os avanços e descobertas científicas dependem muito mais de planificação, perseverança, capacidade de resistência ao falhanço e estoicismo para aguentar bolsas congeladas há quase 10 anos, bem como total ausência de protecção social de que padecem os nossos jovens cientistas. É claro que é confortante e inspirador este mito. Conforta pensar que num momento tudo se pode desbloquear, e, conforta ainda mais, pelo menos numa ou duas dúzias de casos que conheço, imaginar jovens cientistas a correr nuas pelos campus universitários a gritar "EUREKA, EUREKA".
A realidade é que o mito de Arquimedes focado no final, na resolução do problema tende a fazer-nos esquecer que o processo, o caminho para lá chegar, esse sim é que é fundamental. Em última análise, preocupamo-nos demasido com o fim e tendemos a descurar o meio, o que torna tudo o resto possível.
Afinal consegui descobrir isto.
EUREKA !

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