Os três mosqueteiros

Não vou falar do fabuloso romance do Alexandre Dumas, nem das suas inúmeras sequelas. Não vou sequer falar do Dartacão que animou as tardes da minha infância. Vou falar apenas de três pessoas, aliás, de duas que fazem parte de um grupo de três.

Somos amigos, apenas isso. Escrevo isto com a ligeireza de quem por um momento se esquece que pode haver algo mais forte do que a amizade. Conhecemo-nos há muitos anos. Há tantos que nem sequer sei se quero contar. Não nos vemos diariamente, não temos aquela lidação intensiva que muitos pensam ser condição sine qua none para se reclamar uma relação como de amizade. Temos apenas uma rotina em comum, um encontro anual em Olhão no festival do marisco.

Ultimamente tivemos uma grande ajuda que veio pela forma do Facebook, essa poderosa rede social de quem muitos falam bem e muitos outros falam mal. Por um passe de engenharia informática universalista, passámos a estar juntos todos os dias. Conseguimos recuperar a oportunidade de saber a cada minuto o que se passa com cada um, voltámos a descobrir quase à velocidade do pensamento o que estamos a passar, as músicas que queremos ouvir, os poemas que nos apetece recitar, as pessoas que ousamos amar.

Mas afinal quem são estes três artistas que por aqui andam a descobrir-se e redescobrir-se em direcção ao infinito ? Bem, um sou eu. Já me conhecem, não me vou descrever porque detesto falar de mim, como estão cansados de saber. Além disso, o assunto não é muito interessante, sou o vulgar totó que todos conhecem. Agora em relação aos outros dois, aí merece perder algum tempo.

O Nuno é um herói. Não estou a gozar, é um daqueles homens que estamos habituados a conhecer nos livros de histórias e nos filmes épicos. É um profundo idealista que, apesar de ter o corpo em chagas de batalhas e derrotas passadas, continua a lutar, como se nada mais soubesse fazer. O Nuno tem a coragem típica do desespero, ataca sonhos e objectivos com uma garra estranha para os dias que correm e, nem sempre, se dá ao trabalho de se proteger do que possa correr mal. Se D Quixote voltasse à existência por um fabuloso passo de mágica, seria uma pálida caricatura do meu Amigo Nuno Pereira. Esse gajo limitou-se a carregar sobre moinhos depois de comer uns cogumelos manhosos, o Nuno desafiaria exércitos temperados pelo fogo do inferno com uma rosa nas mãos e um sorriso nos lábios. Nele há acima de tudo vontade. Uma vontade inebriante de conquistar o impossível, uma força de vontade que se alimenta de derrotas passadas, uma entrega que só pode ser descrita por aqueles e aquelas que um dia foram capazes de se deitar à sombra da segurança que ele tanto tenta oferecer a quem ama. Sim, porque em última análise, depois de tudo ter sido pesado, analisado e escalpelizado, é o Amor a força que o impulsiona. O Nuno é um dos homens mais perigosos que conheci na vida. Ele é perigoso porque acredita firmemente no que diz, ele diz sinceramente o que sente e sente absurdamente aquilo por que luta.

Depois ainda há a Sandra. Para a Sandra é ainda mais difícil arranjar adjectivos. Ela é o elemento aglutinador deste nosso grupo informal. É a verdadeira líder, a voz da racionalidade quando ela faz mais falta. É claramente a mais inteligente de nós, o que não quer dizer que sinta menos do que nós, muito pelo contrário. A Sandra navega pela vida sem a intensidade das nossas cargas suicidárias de cavalaria, ela consegue estar presente de uma forma menos emotiva, mas nunca menos emocional. Ela consegue manter e mostrar um rumo quando tudo à nossa volta parece estar perdido. Nós podemos ser o vento que impele as velas ou a força que faz mover os remos, mas ela é a bússola e o astrolábio que nos dão o rumo. Por vezes podemos vê-la calma e quase impassível perante situações de risco ou de stress, e nesses momentos só quem não a conhece é incapaz de ver no brilho dos seus olhos o fogo que lhe arde no coração. A minha querida Amiga Sandra Paulo pode por vezes parecer feita de gelo mas é uma daquelas estátuas de fogo esculpidas nas entranhas da Terra.

Juntos somos perfeitos porque desenvolvemos uma extraordinária capacidade de nos abastecermos uns aos outros do que precisamos para carregar aos ombros o peso dos dias. Um partido político juntou-nos há uns anos atrás, mas o que nos uniu é bastante mais forte do que isso. São anos de experiências, de partilhas, de risos e lágrimas, de euforias e neuras partilhadas. Há uma miríade de momentos que foram eternizados porque partilhados. Há uma infinidade de experiências que contribuíram para fazer de nós quem somos, mas que, por partilhadas, fizeram deste grupo uma irmandade rara e valiosíssima.

Hoje sei que posso arriscar. Sei que posso perder, sofrer, sei que por muito mal que esteja, os outros dois estarão comigo. À distância de um click, à velocidade de um pensamento. Sei, e eles também o sabem, que tenho uma rede para me amparar das quedas, uma bóia para me salvar do naufrágio. Tenho no Nuno a força, a garra e a determinação que me lembra que a força de vontade, a perseverança e o Amor podem mudar o mundo. Tenho na Sandra a razão para travar os meus mais entusiásticos impulsos e o fogo que me vai aquecer quando o frio da derrota me invadir todos os poros da alma.

Tenho-os comigo e eles têm-me para si próprios. Enquanto eles ficarem, eu não saio. Enquanto eles existirem, eu não desapareço.

1 comentários:

Bom de facto a sandrita tem razão para estar vaidosa...

Abraço-te

2/6/10 02:40  

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