Portugal e o futuro


Há um mal estar generalizado neste país. Nem é preciso tomar atenção aos noticiários da TV nem ver a 1ª página d´”O Público”, esse jornal de referência convertido no último baluarte da liberdade e da democracia num país asfixiado pela ditadura da propaganda governamental. Basta sair de casa. Basta ir a um café e ouvir as conversas, basta ver o ambiente nas repartições públicas, ir às urgências de um hospital, passar umas horas numa sala de professores.

Portugal vive numa psicose colectiva que é acima de tudo, e principalmente, da responsabilidade de um governo que atropela todos os direitos cívicos, viola todas as regras de convivência política que marcaram dezenas ou centenas de anos da nossa história. O grande mal deste país resume-se a uma postura de quem deveria zelar pelos nossos interesses e teve a suprema lata de os enfrentar. Não interessam muito as finalidades do rumo político impresso desde 2005, nem sequer interessa a legitimidade democrática de quem o imprimiu, o que interessa é que NINGUÉM tem legitimidade para alterar o que existia e, certo ou errado, justo ou injusto, satisfazia os nossos desejos e ambições. A sustentabilidade de Portugal como país é muito relativa, a viabilidade económica é um problema que só interessa a meia dúzia de iluminados sentados em Lisboa com gabinetes recheados e pagos principescamente. Ao comum dos cidadãos palavras e termos como défice, contas públicas, balança comercial, ciclo económico não passam de balelas inventadas para oprimir os pobres, honestos e esforçados trabalhadores e contribuintes portugueses.

Não interessa se o país gasta mais do que produz, a existência de privilégios em algumas castas profissionais é natural e, se algo corre mal, a culpa é sempre dos outros, porque todos, eu incluído, somos exemplos de dedicação, entrega patriótica e profundo e desinteressado profissionalismo. Criou-se um dogma em Portugal de que governar à esquerda é dar tudo a todos sem controle nem justificação. Criou-se um dogma em Portugal que impôr regras, justificar gastos e planificar o futuro é património histórico da direita. Estes dois dogmas assassinos têm como resultado a impossibilidade ideológica de alguém pretender criar uma estabilidade económica para com isso pagar políticas sociais. Estes dois dogmas injustos tornam imoral, contra-natura e herética qualquer política de um partido de esquerda que queira reformar o estado, rentabilizar a economia e mudar o futuro porque, para muitas das pessoas da esquerda honesta, campo no qual qualquer apoiante do actual governo não tem assento, o governo deve ser apenas um distribuidor de riqueza, um garante de direitos e, NUNCA, um exigente de responsabilidades.

Quando oiço os revoltados cidadãos portugueses clamar a sua raiva e frustração contra o tirânico governo de José Sócrates, penso nas alternativas e chego à conclusão que Portugal ainda não bateu no fundo. O controle do défice não foi importante porque o país deveria gastar o que quizesse, tendo em conta sempre o bem estar dos seus cidadãos, o aumento do desemprego é um crime porque a reconversão da indústria não é importante, o ataque a alguns privilégios corporativos é uma violação de direitos básicos porque todos temos direito a tudo, independentemente do que façamos para o merecer.

Hoje sou um homem novo, fruto desta aprendizagem que tive nos últimos três anos. Ao diabo com toda a racionalidade e ponderação nas contas públicas. Estou farto de, como cidadão, sofrer para que um país de dez milhões de cidadãos seja viável. Quer as coisas estejam boas ou más, a única coisa que me interessa é a minha parte e, como tal, quero a governar-me alguém que assegure essa minha parte e os outros que se amanhem. Já que José Sócrates não passa de um direitista que tomou por uma OPA o Partido Socialista, já que o controle do défice é política de direita, já que o aumento dos subsídios de maternidade, o aumento das pensões de sobrevivência, o maior aumento de sempre no salário mínimo, a inclusão da caríssima vacina contra o cancro do colo do útero no plano nacional de vacinação, a generalização dos meios informáticos a estudantes, entre outras são tudo políticas nas quais a esquerda não se revê, então que venha um político de esquerda a sério tomar conta do país.

Se tudo correr bem nas próximas eleições teremos Jerónimo de Sousa e Francisco Louçã a governar Portugal em aliança com a campeã dos direitos sociais que é Ferreira Leite. Poderemos então ter um governo que dará aos sindicatos tudo o que pretendem, mas a todos os sindicatos e não só aos de uma determinada classe profissional. Desejo ardentemente ver aumentos salariais de 10% para todos os trabalhadores, desejo ver todos os profissionais progredirem na carreira automaticamente e sem qualquer forma de avaliação até todos atingirem o topo, e de preferência dez anos antes da reforma. Quero ver as farmácias com o monopólio de venda de medicamentos, as férias judiciais em dois meses completos e o sistema de protecção social das forças policiais e forças armadas reposto porque ele DEVE contemplar não só os seus beneficiários a 100% como também os seus familiares incluindo os por afinidade. Quero um hospital em todas as sedes de concelho e um centro de saúde e maternidade em todas as sedes de freguesia porque a qualidade dos serviços de saúde e a mais baixa taxa de mortalidade infantil da Europa se devem à proximidade dessas estruturas e não à qualidade do serviço fornecido em infra-estruturas especializadas. Quero subsídios para os nossos agricultores, pescadores, operários e vinicultores, subsídios esses a distribuir em função das suas intenções e não da sua produção porque é sabido que em cada português há um trabalhador honesto e incansável e a sugestão de que alguns poderão tentar viver de benefícios é caluniosa e anti-patriótica.

É este o governo que quero ver no futuro para o meu país, embora deseje sinceramente ter emigrado antes de isso acontecer. Quando Portugal chegar ao ponto em que chegou a Argentina há poucos anos atrás, quando o país falir e o banco de Portugal fechar, quando os sálarios dos funcionários públicos não forem pagos, as transacções internacionais congeladas e os bancos cancelarem os empréstimos e cobrarem no próprio dia as dívidas, então alguém pensará se o rumo foi o correcto. Octávio César Augusto escreveu à cerca de 2000 anos atrás que “ para lá dos Pirinéus há um povo que não se governa nem se deixa governar”. Na altura referia-se à resistência dos bascos mas hoje, 2000 anos depois é a outro povo que essa máxima presciente se deve aplicar. O meu instinto sádico leva-me a escrever que este país merece ter o governo que deseja, mas a réstia de sentimento patriótico que ainda tenho, e já não é muito, leva-me a combater diariamente esse fado lusitano, essa atracção pela catástrofe que nos leva a pensar como indivíduos ou como membros de uma casta e, como consequência, ignorar o bem comum.

Sinceramente já não sei por que razão continuo a tentar convencer-me com estas tretas, o melhor é ser como os outros e ir na corrente, no final de tudo, alguém aparecerá para fechar a porta.

José Sócrates ?!? Estou farto desse tirano direitista e lacaio do capital.

Que venham os verdadeiros homens de esquerda !

1 comentários:

Concordo plenamente.
Aliás: adiantei-me, e saí a tempo de não ter que ser eu a fechar essa tal porta.
Pra quê desenvolvimento? Isso é bom é prós estranjas... O que nós queremos é servir o camone e ganhar a gorja. Isso de planear o futuro é coisa de intelectualóides reaccionários.
E convenhamos, dá um jeitaço ter posições definitivas, faça-se ou não por isso. Isso do esforço faz mal à saúde, e depois o país tem que gastar muito dinheiro em baixas.

Camarada, de um homem de esquerda para outro lhe digo: a luta continua! Mas vamos tomar uma loura, porque há de aparecer alguém para lutar.

19/6/08 15:11  

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