Manuela Ferreira Leite

Há alguns meses atrás, decorria animada a campanha eleitoral para as habituais eleições internas semestrais do PSD, e no meio das discussões animadas e apaixonadas que costumava ter no meu local de trabalho da altura ouvi uma brilhante pérola de análise política que nem tão cedo esquecerei : " Agora se a Ferreira Leite ganha é que eles entram em pânico". Como devem calcular os leitores mais desatentos o "eles" era eu e todos os Socialistas deste país. Na altura, confesso que o comentário me incomodou um bocado porque, não só não me sentia nada em pânico, como até estava satisfeito com a ideia da ministra das finanças do governo do "cherne" poder liderar o maior partido da oposição num contexto em que teria que explicar aos portugueses por que razão seria melhor para governar depois do brilhante desempenho económico do seu consulado. Como tenho a mania de, apesar de defender convictamente as minhas opiniões, não me achar detentor da verdade absoluta pensei um pouco no assunto, não fosse a minha análise estar completamente errada. Cheguei à conclusão que não, que eu estava certo e que a pior coisa que podia acontecer era o futuro dar-me uma liçao de humildade.

Bem dito, melhor feito, eu estava errado. Não estava errado ao querer ver a Dona Manuela à frente do PSD, estava errado ao pensar que os "eles agora entram em pânico" se referia a mim e aos meus camaradas. É um defeito que tenho reagir como quem está cercado quando sinto alguém, ou como costume muitos alguens a pôr-me em causa mas desta vez confesso que exagerei. Os "eles" não eram os Socialistas. Eram os trabalhadores que ganham o salário mínimo nacional que estavam em pânico porque a Dona Manuela quer rasgar o acordo de concertação social que este governo assinou com os sindicatos e que permitiu o maior aumento de sempre do salário mínimo em apenas 4 anos. Quem estava em pânico eram as empresas de obras públicas pois essas iriam parar se a Dona Manuela chegasse ao governo. Quem estava a entrar em parafuso eram os ministros das finanças da Guiné Bissau e da Ucrânia pois como a Dona Manuela tão bem explicou, a paragem das obras públicas em Portugal levaria ao aumento do desemprego nos seus países. Aqueles que ficaram aterrorizados, foram as empresas de fornecedores do estado e das autarquias que levam anos para receber e que este governo decidiu pagar pagar as dívidas ( medida que peca por 20 anos de atraso mas que foi tomada agora ) o que a Dona Manuela classificou de irresponsabilidade. Para terminar, em verdadeiro estado de pânico estavam os jornalistas que parece que não podem ser os únicos a decidir o que publicam e todos os sindicatos de todas as profissões deste país que perceberam ontem que para serem feitas reformas temos que suspender a democracia por seis meses.
Ontem compreendi finalmente o meu erro e lamento as discussões que causei por achar que, como Socialista, a eleição de Ferreira Leite representaria uma ameaça. Não era de mim que estavam a falar e lamento muito o meu erro de análise.
A todas as pessoas que agora se sentem verdadeiramente em pânico, pouco vos posso dizer a não ser que farei a minha parte para que a Dona Manuela não passe de apenas mais um erro de casting num filme de terror de classe C. Como eleitor, militante e dirigente de um partido político, neste caso o PS, esforçar-me-ei ao máximo para que ela não chegue ao ponto onde tenha a capacidade de suspender a democracia. Tenham fé e esperança. Confiem em mim. Ela não governará.

Cada um atira o que tem à mão!

O Jumento escreveu. O Pedro Sá gostou e comentou. Eu gostei ainda mais e reproduzo tanto o texto original como o comentário posterior.
Não fiquei nada surpreendido com o comportamento dos meninos de Fafe nem com a reacção colectiva de condenação um dia depois, quando no momento em que os factos sucederam ninguém parece ter ficado muito indignado, nem deve ter faltado por esse país quem sorrido perante a situação e feliz pela mobilização dos pirralhos.
Não fiquei surpreendido porque uns dias antes, um dois oficiais que tiveram os mais altos cargos nas chefias militares sugeriram ao país que quando as pessoas se manifestam podem levar o que têm à mão, no caso dos militares são as armas que estão às mãos de semear. Ora, o que os meninos de Fafe fizeram não foi outra coisa senão o que sugeriram os militares, não tinham armas mas alguns deveriam ter umas galinhas poedeiras e a ministra da Educação, para gáudio geral, levou com ovos.
Se não tivessem aprendido com os generais poderiam ter seguido o exemplo do professor do CC do PCP que é líder da Fenprof, durante muitos meses o seu passatempo de fim-de-semana foi fazer esperas a Sócrates, ele e mais alguns professores exemplares, daqueles que todos gostaríamos de ver a ensinar os nossos filhos, deram a conhecer ao país um dicionário de calão político. Se não tivessem aprendido nem com os generais, nem com o distinto alto responsável do PCP ainda poderiam ter frequentado um dos cursos de desobediência civil.
De resto, num país em que todas as regiões oferecem doces regionais à base de ovos é perfeitamente natura que os meninos de Fafe tivessem mimoseado a professora com ovos.
Ao contrário da outra calmeirona que agrediu uma professora para recuperar o seu telemóvel, os meninos de Fafe foram heróis durante vinte e quatro horas, foram-no enquanto as dúvidas sobre as motivações e a espontaneidade da brilhante acção de galinharia urbana.
Quando a calmeirona agrediu a professora o país parou para reflectir, o tema da moda foi a indisciplina, a falta de espontaneidade e a violência nas escolas.
Quando a ministra foi agredida verbalmente e se arriscou a transformar a cabeça num preparado de ovos-moles, tudo isso perante a alegria colectiva fez-se silêncio, não há nada a reflectir.
No dia seguinte os pais e os professores repudiaram o acto e assunto encerrado.Um dia destes outros manifestantes poderão seguir a sugestão dos militares e seguir o exemplo dos nossos alunos, que não querem ser penalizados por faltarem às aulas.
Espero não ter de me cruzar com um manifestação de calceteiros, corro o risco de levar com um paralelepípedo de granito, e nem quero imaginar o que poderá suceder no dia em que o pessoal da recolha de lixo se manifestar, arrisco-me a apanhar com um saco do Pingo Doce cheio de restos de cozido à portuguesa.
É assim a nossa democracia representativa, cada um manifesta-se como quer e atira o que tem à mão.
Subscrevo inteiramente. Sem esquecer que isto tem tudo dedo político por trás. Se os professores, que aliás não têm razão nenhuma, andam a ser descaradamente utilizados pelo seu sindicato como arma de arremesso pelo PCP para substituir Carvalho da Silva por Mário Nogueira à frente da CGTP, aqui isto é demasiado malcriado para ser PCP. Isto tem notoriamente o dedo do BE.
PS - Não subscrevo a parte do "não têm razão nenhuma" Pedro. Algumas razões têm, se bem que na minha opinião não no essencial.

Descobri no jugular a frase mais linda sobre estas eleições : " Rose Parks sentou-se para que Luther King pudesse marchar. Luther King marchou para que Obama pudesse voar ".
Para quem não reconhece os nomes, Rose Parks foi a costureira de Montgomery, Alabama, que se recusou a sair da sua cadeira para dar lugar a um branco num autocarro e a sua atitude foi das principais alavancas para o movimento pelos direito cívicos na década de 60. Martin Luther King liderou os movimentos de protesto e no seu célebre discurso " Eu tenho um sonho" em agosto de 1963 lançou os alicerces de uma sociedade que então não passava de uma miragem. Hoje, apenas passada uma geração, Barack Obama atingiu o que muitos sonharam, embora poucos tivessem a coragem de o afirmar, um negro é Presidente eleito dos Estados Unidos da América.
Poucos dos problemas que afligem e corroem a sociedade americana serão resolvidos com esta eleição. As guerras entre gangs de negros e hispânicos nos bairros degradados das cidades não cessarão, o déficit federal não desaparecerá facilmente, os soldados americanos não deixarão de alvejar nem de ser atingidos onde quer que andem pelo mundo. Chavez não ganhará juízo, o Irão não reconhecerá Israel, os Palestinianos não farão a paz entre eles e com os Judeus e a Coreia do Norte, ao contrário do que diz Bernardino Soares, continuará a investir rios de dinheiro em programas bélicos enquanto o seu povo morre à fome.
Não existem na política nem na geoestratégia varinhas de condão, apesar do campo ser fértil em ilusionistas. Barack Obama tem sobre os seus ombros o peso da esperança que criou e o lastro dos resultados que se lhe exigirão quase automaticamente. Não acredito que faça um décimo do que dele esperam, mas a política é isso mesmo, a gestão de vontades, a procura de soluções e a assumpção de prioridades, com todos, por todos e para todos, como escreveu Lincoln. Costuma-se dizer que as campanhas eleitorais são feitas em poesia e o governo em prosa. Obama não mudará o mundo mas pode mudar a forma como o mundo se relacionará e verá os Estados Unidos da América que, para infelicidade de muitos continua a ser o farol da Liberdade e da Democracia no planeta.
Digam o que disserem, o dia 4 de novembro de 2008 entrará na história. Há 40 anos Obama não poderia entrar em certos transportes públicos nem estudar em certas escolas. Há 60 não poderia servir no exército e há 100, apesar de previsto constitucionalmente, não conseguiria votar. Há 150 anos seria escravo, tal como os seus ascendentes e as suas lindas filhotas teriam nascido propriedade de alguém.
Muito precisa de mudar na sociedade americana mas por mais graves que sejam os problemas e as injustiças que lá resistem, há também isto, a capacidade de o filho de um pastor Queniano e de uma americana aos 47 anos nos lembrar que sim, tudo é possível, que sim, nós podemos.
" Se ainda anda por aí alguém que duvida que a América é o local onde tudo é possível, que ainda pensa se os sonhos dos nossos fundadores ainda estão vivos, que ainda se questiona sobre o poder e a força da nossa democracia, esta noite é a vossa resposta".
Barack Hussein Obama

BOA NOITE DIREITA ESTÚPIDA!

Descobri via Jumento. Não podia concordar mais :
Como se sentirão os ideólogos do que resta da nossa direita nesta noite em que muito provavelmente os americanos recolocam os EUA na normalidade? A nossa direita é cartesiana e apoiou incondicionalmente McCain só por estar mais à direita, a situação é tão ridícula que muitas personalidades de um partido que se diz social-democrata apoiaram a candidatura de McCain, tal como já tinham apostado em Bush contra Gore. Tão estúpida nem a direita espanhol, o PP, um partido bem mais à direita do que o PSD, apostou em Obama.
Depois do desaparecimento dos liberais é a vez dos admiradores de McCain. Vale a pena ler o retrato que Pacheco Pereira fez de Obama no passado dia 4 de Fevereiro:
«Uma parte da nossa direita e de quase toda a nossa esquerda, mostra como o anti-bushismo não é bom para a qualidade do pensar. É que Obama, comparado com Hillary Clinton ou com John McCain, tem pouco lá dentro. Nem saber, nem experiência, nem consistência. Pode vir a ganhar tudo isto, mas para já não tem. Mais um produto da fábrica de plástico, jovem, simpático, bom ar, bom falador, muito teatro de convicções, e politicamente correcto na cor, nem muito preto, nem muito branco, mais um teste para a tese de Kissinger de que cada vez mais as condições para se ser eleito presidente nada tem a ver com as condições para se exercer bem o seu cargo.» [Abrupto]
Veremos o que vai dizer agora.

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