Someone saved my life tonight

Não é muito fácil escrever este texto. Apesar disso é fundamental fazê-lo. Hoje foi um dia bonito, apesar de todas as expectativas em sentido contrário. Por vezes estamos tão embrenhados na nossa vida do dia-a-dia que nos esquecemos que há momentos na vida que nos ultrapassam e nos açambarcam de um forma avassaladora.
Hoje foi um desses dias. Não fiz nada de diferente, não pedi nada a ninguém e alguém deu-me tudo.
Uso a net para muitas coisas, incluindo para aqueles joguinhos estranhos em que pessoas do mundo inteiro partilham uma realidade que parece ser apenas virtual. Num desses joguinhos, o meu preferido, conheci muita gente, a maior parte da qual nem referência merece. Mas além desses houve meia dúzia que insistiram em ser mais do que parceiros anónimos de uma aventura virtual. Uma dessas pessoas hoje gravou a ferro e fogo o seu nome no meu coração.
É estranho estar a escrever sobre alguém de quem não sei nada, nem virei a saber. É complicado referir o papel de alguém que nada, ou quase nada de mim sabe ou virá a saber. A realidade é que hoje um raio de luz entrou numa caverna escura, fria e povoada por monstros.
Hoje, numa conversa partilhada entre o msn e o skype, alguém teve a doçura e o carinho de me fazer sentir algo mais do que aquilo a que estou habituado. Fê-lo de forma altruista e desinteressada, fê-lo, quem sabe se por obrigação profissional, quem sabe se por dedicação a um amigo desconhecido. Não me interessam neste momento as razões, como devem calcular. Sei que alguém que comigo nunca nada partilhou, a não ser um jogo de computador, traçou uma linha na areia e assumiu que nada me aconteceria de mal enquanto olhasse por mim.
Um dia ensinaram-me que uma vela acesa nada perde por acender uma apagada. Tenho passado a minha vida a tentar ser essa vela acesa e nunca nos últimos anos, até hoje, me tinha apercebido do que é estar no papel da vela apagada.
Obrigado pelo que me fizeste S. Hoje deito-me confortado por saber que pessoas como tu defendem a muralha que existe à minha volta. As feridas do corpo tratam-se, ou pelo menos controlam-se. As feridas que pensei ter na alma já nem sequer existem. Enquanto for possível ser salvo da forma que me salvaste hoje, posso ter a certeza que a vida é muito mais do que a arte de gastar oxigénio e produzir dióxido de carbono. Hoje a minha fé na humanidade foi renovada, hoje a minha crença na amizade foi reforçada.
Agradeço-te do fundo de um coração grande e atormentado. Hoje, mais do que um simples fogo fátuo, foste uma lareira e um farol.
Obrigado S.
You saved my life tonight !

Filosofia Coldplay

O que começa como "Fix You" ... acaba como "Yellow".

A montanha pariu um rato






Esta é bem capaz de ser das expressões que são pior utilizadas. Quando dizemos “A montanha pariu um rato” estamos a fazê-lo num sentido pejorativo para indicar uma situação ou uma pessoa que muito prometeu e pouco cumpriu. É uma das melhores metáforas para indicar a nossa decepção perante um resultado que frustrou as nossas expectativas.
Olhemos agora para a mesma expressão e analisemo-la para lá das dimensões dos envolvidos, a montanha e o rato. Experimentemos por um momento comparar as suas naturezas. A da montanha, mineral, e a do rato, ser vivo. Uma montanha é uma estrutura geológica composta for rochas que são agregados de minerais. O Silício é o seu tijolo estruturante e, tal como todas as estruturas minerais, o seu segredo está na estabilidade da sua rede cristalina. A ordem e a organização são as suas leis e ninguém espera que uma montanha mude de forma, de cor ou de local por vontade própria. Ninguém espera que uma montanha faça o que quer que seja, a não ser ser erodida pela lenta e inexorável acção do tempo e dos fenómenos do meio ambiente. Um rato, por seu lado, é um ser vivo. O Carbono é o seu criador, o seu imperador e o seu destino. O rato é concebido, nasce, cresce, reproduz-se e morre. Basta uma das inumeráveis reacções químicas que ocorrem no seu corpo para estarmos na presença de uma complexidade infinitamente superior a tudo o que ocorre numa montanha.
Podemos então concluir que se uma montanha parisse um rato, estaríamos na presença de um milagre da natureza. Esta expressão é um claro exemplo de como as leis da natureza podem expor o real sentido de uma sabedoria popular. Que podemos fazer então ? Será que se ignorarmos as leis naturais as coisas funcionarão de forma diferente ?
Podíamos rasgar os estudos de Newton na esperança de que a gravidade desaparecesse e todos pudéssemos voar tão alto como os nossos sonhos. Se queimássemos os livros de Galileu talvez voltássemos a acalentar a esperança de que o nosso pequeno planeta voltasse a estar no centro do Universo. E o que dizer de Freud ? Não era giro acabar com o trabalho dele e voltar a acreditar que somos de facto conscientes de todas as nossas acções ? E Darwin ? Este então era lindo de destruir. Acabava de vez a selecção natural, deixávamos de ser um produto da evolução, com antepassados comuns com os macacos, e voltávamos a ser obra divina criada à imagem e semelhança de deus para reinar em seu nome sobre o mundo. Por falar em deus, e se reduzíssemos a cinzas a bíblia, o Corão e a torah ? Deus acabaria, o Olimpo voltaria com o seu cortejo de deuses humanizados e, ainda, com a vantagem de deixarmos de ter que aturar o Saramago. Será que tudo isto funcionaria ?
Não ! Não funcionaria. As ciências, sejam elas exactas ou inexactas, concretas ou abstractas, ocultas ou esotéricas, não criam nem inventam a realidade, apenas a tentam explicar. Ignorá-las, combatê-las ou repudiá-las não muda num milímetro o mundo em que vivemos. Estaremos então condenados a viver num mundo que pode ser explicado, compreendido e regido por leis científicas e equações matemáticas ?
Mais uma vez, não ! Claro que não ! Ainda temos a poesia.
Na poesia somos completamente livres. Podemos voar até onde quisermos, só pelo facto de o querermos. Podemos plantar sonhos em solos de nuvens e esperar pela Primavera para colher os seus frutos, as estrelas. Podemos enterrar flores no coração e chamar de sentimentos às suas pétalas. Somos capazes de amar o próximo e o distante, o presente e o ausente só porque estamos vivos ou porque queremos reavivar a vida de alguém. Na poesia não há regras a não ser as nossas, não há limites a não ser os que ultrapassamos. Há apenas vontade, que é a verdadeira inspiração para a Liberdade. Sejamos então poetas, sonhemos com anjos e construamos um mundo onde o impossível não passe de um conceito teórico criado para nos recordar o quão pequenos podemos ser se deixarmos de sonhar.
Então mas é ou não possível uma montanha parir um rato ? É pois ! Aconteceu hoje. O cerro de S. Miguel deu à luz um chinchila branco com as patinhas cinzentas e uma risca dourada na cabeça. Que tenha uma vida boa e que seja muito feliz.

Loucura

Acho que vou a caminho de Lisboa daqui a hora e meia. Sandra, Nuno, aguentem as coisas e não comam as entradas todas, o dia hoje é para libertar a alma e afogar as saudades. Esperem por mim que aparecerei, cedo ou tarde, esta noite é nossa.

Linhas cruzadas

Duas linhas cruzaram-se. Uma delas seguia o seu caminho. Não era um caminho muito bem definido, diga-se. Seguia apenas em frente, umas vezes convicta do rumo, outras apenas seguindo porque estar parada era impensável. A outra andava por aí, errática sem saber muito bem qual o seu caminho. Foi mais um choque do que um cruzamento. Foi rápido, intenso e depois, da mesma forma que apareceu perpendicularmente vinda do fundo do nada, a segunda linha para o fundo de tudo perpendicularmente partiu.
Durante algum tempo foram caminhando juntas de forma não muito bem definida. Uma queria que trilhassem um caminho em comum, sem que nenhuma delas perdesse a sua individualidade, a outra preferia continuar a cruzar-se perpendicularmente com a primeira, quem sabe infinitamente.
Ao fim de algum tempo, voltaram a separar-se. A primeira linha acabou por se tornar numa estrada. Serpenteou por montes e vales, cruzou rios, campos e searas. Não se sabe bem onde chegou, se é que chegou a algum lado, mas envolveu-se no mundo e fez parte dele. A segunda linha, essa, continuou a andar por aí. Um dia arranjou emprego como bola de flipper e passou o resto da vida numa máquina a dar bordoadas nas paredes consoante as pancadas que levava.
PS - Por favor, alguém escreva um final mais feliz para isto. Obrigado.

Outono

Dois dias seguidos de chuva e parece que chegou o Outono. Finalmente, digo eu. Não percebo o que é que as pessoas têm contra a chuva e custa-me bastante a compreender as depressões de fim de Verão. Há quem se consiga sentir bem com a ideia de um Verão interminável em que o Sol seja imperador único no céu, as nuvens exiladas para outras coordenadas geográficas e a chuva banida até mesmo da memória. Eu não consigo. Em primeiro lugar sou sagitariano logo nasci no Outono. É nesta estação que me sinto melhor, pelo menos mais próximo da minha verdadeira natureza.
O Inverno para mim aguenta-se estoicamente, porque não se lhe é possível fugir, a Primavera é uma estação de esperança e também de algum cansaço, está intimamente ligada ao final do ano lectivo que nunca é fácil. O Verão é um tempo de felicidade, pura, honesta, altruísta e inabalável. O Sol leva-me sempre mais longe do que julgo ser capaz, tira-me sempre dos ombros pesos que devia carregar, dá-me sempre energias para lutas mais complicadas do que as que posso vencer. Qual é então afinal o meu problema com este Verão demasiadamente prolongado ? É simples, estou farto de me sentir feliz. Estou a precisar da doce melancolia Outonal, das tardes de chuva, da necessidade de mais uma mantinha porque o frio se instala no corpo e ameaça instalar-se também na alma. Estou a precisar daqueles momentos introspectivos, de me afastar um pouco do mundo e regressar a mim. A melancolia inspira-me, solta-me os pensamentos, clarifica-me sentimentos e recorda-me os porquês das minhas lutas. A procura da felicidade é um processo contínuo e se há de facto pessoas que conseguem afirmar sem vergonha que vão ser felizes para sempre, só posso dar graças por não ser uma delas. A minha felicidade, a existir ou a conquistar, será difícil, espinhosa e complexa, mas não tenho dúvidas que será construída em tardes ou noites de Outono. Será preparada para resistir aos invernos da vida, para florescer nas primaveras e viver louca e intensamente nos verões, nunca esquecendo a sua génese Outonal.
Hoje regresso a mim, aos meus mais profundos alicerces, à minha mais segura fortaleza. Sê bem vindo Outono, no meu colo terás sempre um amigo, no teu regaço terei sempre companhia.

Regresso

O despistagens voltou. Tenham medo, tenham muito medo !!!

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