Rui Costa

Há noites assim. Felizmente ainda há, muito esporadicamente, jogos e jogadores que nos fazem lembrar que o futebol pode ser mais que um simples desporto. Não vou aqui fazer uma análise ao jogo com a Naval, isso já muitos bem melhores do que eu o fizeram numa dezena de jornais e numa centena de blogs. O que me interessa no que se passou na Luz está relacionado com um jogador, o tal de quem treinadores, adeptos e, até, um palerma cheio de dinheiro, disseram estar acabado e ser apenas uma espécie de amuleto sem utilidade prática para o plantel.
O seu nome é Rui Manuel César Costa e, confesso, não me lembro dele antes do penalti que decidiu a vitória de Portugal no mundial de 1991. Nessa altura não ligava muito ao futebol por isso não sei quando se estreou pelo Benfica, quem o lançou, nem muito menos se mereceu ir rodar para o Fafe ou se tal foi uma profunda injustiça. Lembro-me da sua cavalgada furiosa em direcção às bancadas da Luz para festejar com os adeptos a conquista do trono mais elevado do mundo para o seu escalão etário. Lembro-me dessa sua força imparável, dessa sua garra que parecia vir do fundo da sua alma, que parecia ser a sua alma. Rui Costa tornou-se rapidamente no símbolo de um Benfica em constantes convulsões internas, e quando do polémico verão quente e da debandada de alguns jogadores, questionado sobre a hipótese de, também ele sair a custo zero, a sua resposta foi clara : " NUNCA ".
Rui Costa saiu, naquele que foi o melhor negócio de sempre até então para o Benfica. Emigrou mas parte de si nunca saiu do 3º anel, e nunca se escusou de afirmar que um dia voltaria. Espalhou a sua classe por campos e campeonatos, ganhou títulos, mereceu elogios e conquistou adeptos. Pelo caminho voltou à Luz e marcou-nos um golo, um dos golos mais emblemáticos da sua vida pois mostrou ao mundo que apesar de se esforçar pela vitória do seu "patrão" não deixava de sofrer pelo seu clube de sempre.
Rui Costa voltou, como sempre prometeu fazer, dando um exemplo raro de um jogador que não se assume como profissional da bola, mas apenas como um Benfiquista que joga bem futebol e, como tal, só poderia acabar a sua carreira na única verdadeira casa que teve na vida. O seu regresso foi saudado por muitos e criticado por tantos. Diziam que vinha ganhar a reforma, que precisava de muletas e cadeiras de rodas e que o Benfica jogaria com menos um jogador em campo. O resultado está à vista. Sábado de noite, tal como desde o início deste ano, jogou e fez jogar. Defendeu e atacou, passou e cruzou, rematou, assistiu e marcou um daqueles golos que desafiam a lei do esquecimento. Mais lindo ainda que isso, brincou, falou com o público, saltou aplaudiu e fez com que nunca nos esquecêssemos que é um de nós. O seu sorriso ao fazer uma vénia às bancadas é uma estátua, um monumento à simplicidade e alegria de um Homem que com uma bola nos pés continua a ser um miúdo.
Rui Costa nunca se afirmou como uma estrela, preferindo sempre dar valor à constelação de que faz parte. Rui Costa marcará o imaginário de uma geração que viu o futebol tornar-se num negócio e os jogadores em funcionários pagos principescamente para trocar de camisolas ao sabor das comissões dos seus empresários, como um dos últimos moicanos do tempo em que uma camisola era um contrato para a vida.
Voa Rui, dentro e um dia fora dos relvados, voa nas asas dessa tua águia de sempre. Voa para a eternidade e deixa-nos essa maré enorme de recordações de um miúdo com asas nos pés, a baliza entre os olhos e o emblema do Benfica tatuado no coração, que um dia nos conquistou a todos.
Se o futebol fosse um Deus, tu Rui serias o seu último profeta.
Abençoado sejas e obrigado por tudo.

Tão amigos que eles são

Segundo informações veiculadas em vários jornais desportivos, pinto da costa ligou a Madaíl várias vezes no intuito de este despedir o treinador Brasileiro que se encontra ao serviço da selecção Portuguesa, da Caixa Geral de Depósitos e nem sei bem de quê mais.
Acho estranha essa atitude e só posso compreendê-la se pinto da costa estiver com medo de perder o monopólio da estupidez, arrogância, brutalidade e selvajaria.

Inicia hoje no bar Catita em Olhão e dura todo o mês de Setembro. Apareçam, é a não perder.

Café Enigma

Não sei bem o que me levou a lá entrar. Sei que foi o primeiro dia da minha vida em Braga. Sei que saí da Universidade em Gualtar e vim a pé até ao centro da cidade. Sei que me senti cansado e sedento e entrei num centro comercial com um aspecto esquisito. Lá no fundo encontrei um café onde me sentei e comi uma tosta para enganar a falta do almoço e bebi duas colas.
O café chamava-se Enigma e ainda hoje é um enigma para mim a razão pela qual o escolhi para descansar. Passada uma semana começaram as aulas e daí a começar a fazer amizades entre os colegas de Braga foi um instante. Um dia combinámos uma saída à noite e alguém, sinceramente não me recordo quem, escolheu o Enigma como ponto de encontro. Rapidamente o café se tornou a sede não oficial das nossas saídas nocturnas e daí a tornar-se a sede oficial do nosso curso foi uma rapidez incrível.
Os anos passaram e o Enigma manteve-se. Amigos sempre presentes afastaram-se, amigos novos criaram-se e em menos de nada o nosso grupo da universidade estava misturado com o grupo dos estudantes da Escola Secundária D Maria II.
Durante esse tempo o Enigma foi a minha segunda casa. Era lá para onde ia quando saía das aulas, era lá onde ficava quando acabava de jantar. Por lá passaram algumas das pessoas mais importantes da minha vida. O Miguel a Sandra e a minha sempre querida Sónia. Lá conheci o Rui, o Victor, Marcos, Pedro, Sousa, Judite e Filipa. Naquelas mesas tive inúmeras conversas com o Filipe e o Toni, naquelas poltronas tive discussões futebolísticas intermináveis com o Paulo e o Pinho. Lembro-me da alegria contagiante da Lili, da melancolia do Henrique e daquele monumento à Amizade que é a Cláudia, já para não falar da minha fiel companheira das conversas sobre poesia, literatura, música e qualquer forma de arte, especialmente da arte das relações humanas que foi a Cecília.
Servidos pela patroa, a D. Alice e pelas inesquecíveis empregadas Carmo e Lurdes, a juventude sorveu-se por um copo de fino e a vida devorou-se ao sabor de tostas e cachorros. Foram tantas as tardes de estudo naquelas mesas, sentado nas cadeiras mais desconfortáveis que conheci na vida, nem todas rentáveis porque as estudantes de enfermagem também tinham a mania de lá ir, e, acreditem, eram bastante mais atraentes que os apontamentos de Bioquímica, Paleontologia ou Geologia de Portugal. Lá comecei dois namoros e terminei um deles. Foram tantos os beijos roubados, inúmeros os olhares trocados, incontáveis os sonhos partilhados.
Foi no Enigma que festejei os 20 anos do PS, que soube e lamentei a morte do Ayrton Senna, que celebrei o campeonato de 93/94 do Benfica e que questionei como fôra possível aquele monumento ao futebol que foi o 4-4 com o Bayern de Leverkussen. Passei lá 4 aniversários meus e inúmeros aniversários de amigos, vivi lá o melhor e o pior que a vida tem para oferecer a jovens estudantes universitários em estágio para uma vida adulta que desejam como ar para os pulmões e lamentam amargamente depois de a ter.
Nem sei como explicar a felicidade que lá vivi nem a tristeza de a ter deixado.
Hoje, 15 anos depois, entro neste café e tudo mudou. Mudou o dono, mudou o arranjo do espaço, desapareceu o grupo que lhe deu vida no meu tempo de estudante, mas a recordação fica. Essa é minha e ninguém ma poderá algum dia tirar. O Enigma é hoje uma café moderno, bem desenhado e estruturado, quase como uma obra de arte, muito diferente do desenho artesanal antigo. Eu hoje sou um Homem diferente. Os meus sonhos de juventude e de estudante esbarraram na realidade da vida e muitos deles não recuperaram. Mas mais importante do que fazer essa análise, são as duas ou três lágrimas que derramei quando de lá saí. Foi como se estivesse numa máquina do tempo e tivesse tido a sorte de, por momentos, ter revivido muito daquilo que me fez e do qual já não me recordava. Por uma breve meia hora reencontrei todos os meus amigos e amigas, alguns deles ainda comigo, outros uma breve recordação no sótão da minha memória.
Hoje vou para casa um pouco melancólico, mas feliz como há muito não me sentia.
O Enigma ainda vive, e enquanto viver, a parte mais bonita da minha vida não morrerá !

" Eu tenho um sonho "

Foi a 28 de Agosto de 1963, foi Martin Luther King junto ao Monumento de homenagem ao Presidente Lincoln. Foi um discurso para a humanidade, para a eternidade.

«que a liberdade ressoe!»

Há cem anos, um grande americano, sob cuja sombra simbólica nos encontramos, assinava a Proclamação da Emancipação. Esse decreto fundamental foi como um raio de luz de esperança para milhões de escravos negros que tinham sido marcados a ferro nas chamas de uma vergonhosa injustiça. Veio como uma aurora feliz para terminar a longa noite do cativeiro. Mas, cem anos mais tarde, devemos enfrentar a realidade trágica de que o Negro ainda não é livre.

Cem anos mais tarde, a vida do Negro é ainda lamentavelmente dilacerada pelas algemas da segregação e pelas correntes da discriminação. Cem anos mais tarde, o Negro continua a viver numa ilha isolada de pobreza, no meio de um vasto oceano de prosperidade material. Cem anos mais tarde, o Negro ainda definha nas margens da sociedade americana, estando exilado na sua própria terra.

Por isso, encontramo-nos aqui hoje para dramaticamente mostrarmos esta extraordinária condição. Num certo sentido, viemos à capital do nosso país para descontar um cheque. Quando os arquitectos da nossa república escreveram as magníficas palavras da Constituição e da Declaração de independência, estavam a assinar uma promissória de que cada cidadão americano se tornaria herdeiro.

Este documento era uma promessa de que todos os homens veriam garantidos os direitos inalienáveis à vida, à liberdade e à procura da felicidade. É óbvio que a América ainda hoje não pagou tal promissória no que concerne aos seus cidadãos de cor. Em vez de honrar este compromisso sagrado, a América deu ao Negro um cheque sem cobertura; um cheque que foi devolvido com a seguinte inscrição: "saldo insuficiente". Porém nós recusamo-nos a aceitar a ideia de que o banco da justiça esteja falido. Recusamo-nos a acreditar que não exista dinheiro suficiente nos grandes cofres de oportunidades deste país.

Por isso viemos aqui cobrar este cheque - um cheque que nos dará quando o recebermos as riquezas da liberdade e a segurança da justiça. Também viemos a este lugar sagrado para lembrar à América da clara urgência do agora. Não é o momento de se dedicar à luxuria do adiamento, nem para se tomar a pílula tranquilizante do gradualismo. Agora é tempo de tornar reais as promessas da Democracia. Agora é o tempo de sairmos do vale escuro e desolado da segregação para o iluminado caminho da justiça racial. Agora é tempo de abrir as portas da oportunidade para todos os filhos de Deus. Agora é tempo para retirar o nosso país das areias movediças da injustiça racial para a rocha sólida da fraternidade.

Seria fatal para a nação não levar a sério a urgência do momento e subestimar a determinação do Negro. Este sufocante verão do legítimo descontentamento do Negro não passará até que chegue o revigorante Outono da liberdade e igualdade. 1963 não é um fim, mas um começo. Aqueles que crêem que o Negro precisava só de desabafar, e que a partir de agora ficará sossegado, irão acordar sobressaltados se o País regressar à sua vida de sempre. Não haverá tranquilidade nem descanso na América até que o Negro tenha garantido todos os seus direitos de cidadania.

Os turbilhões da revolta continuarão a sacudir as fundações do nosso País até que desponte o luminoso dia da justiça. Existe algo, porém, que devo dizer ao meu povo que se encontra no caloroso limiar que conduz ao palácio da justiça. No percurso de ganharmos o nosso legítimo lugar não devemos ser culpados de actos errados. Não tentemos satisfazer a sede de liberdade bebendo da taça da amargura e do ódio.

Temos de conduzir a nossa luta sempre no nível elevado da dignidade e disciplina. Não devemos deixar que o nosso protesto realizado de uma forma criativa degenere na violência física. Teremos de nos erguer uma e outra vez às alturas majestosas para enfrentar a força física com a força da consciência.

Esta maravilhosa nova militancia que engolfou a comunidade negra não nos deve levar a desconfiar de todas as pessoas brancas, pois muitos dos nossos irmãos brancos, como é claro pela sua presença aqui, hoje, estão conscientes de que os seus destinos estão ligados ao nosso destino, e que sua liberdade está intrinsecamente ligada à nossa liberdade.

Não podemos caminhar sozinhos. À medida que caminhamos, devemos assumir o compromisso de marcharmos em frente. Não podemos retroceder. Há quem pergunte aos defensores dos direitos civis: "Quando é que ficarão satisfeitos?" Não estaremos satisfeitos enquanto o Negro for vítima dos incontáveis horrores da brutalidade policial. Não poderemos estar satisfeitos enquanto os nossos corpos, cansados das fadigas da viagem, não conseguirem ter acesso a um lugar de descanso nos motéis das estradas e nos hotéis das cidades. Não poderemos estar satisfeitos enquanto a mobilidade fundamental do Negro for passar de um gueto pequeno para um maior. Nunca poderemos estar satisfeitos enquanto um Negro no Mississipi não pode votar e um Negro em Nova Iorque achar que não há nada pelo qual valha a pena votar. Não, não, não estamos satisfeitos, e só ficaremos satisfeitos quando a justiça correr como a água e a rectidão como uma poderosa corrente.

Sei muito bem que alguns de vocês chegaram aqui após muitas dificuldades e tribulações. Alguns de vocês saíram recentemente de pequenas celas de prisão. Alguns de vocês vieram de áreas onde a vossa procura da liberdade vos deixou marcas provocadas pelas tempestades da perseguição e sofrimentos provocados pelos ventos da brutalidade policial. Vocês são veteranos do sofrimento criativo. Continuem a trabalhar com a fé de que um sofrimento injusto é redentor.

Voltem para o Mississipi, voltem para o Alabama, voltem para a Carolina do Sul, voltem para a Geórgia, voltem para a Luisiana, voltem para as bairros de lata e para os guetos das nossas modernas cidades, sabendo que, de alguma forma, esta situação pode e será alterada. Não nos embrenhemos no vale do desespero.

Digo-lhes, hoje, meus amigos, que apesar das dificuldades e frustrações do momento, ainda tenho um sonho. É um sonho profundamente enraizado no sonho americano.

Tenho um sonho que um dia esta nação levantar-se-á e viverá o verdadeiro significado da sua crença: "Consideramos estas verdades como evidentes por si mesmas, que todos os homens são criados iguais".

Tenho um sonho que um dia nas montanhas rubras da Geórgia os filhos de antigos escravos e os filhos de antigos proprietários de escravos poderão sentar-se à mesa da fraternidade.

Tenho um sonho que um dia o estado do Mississipi, um estado deserto, sufocado pelo calor da injustiça e da opressão, será transformado num oásis de liberdade e justiça.

Tenho um sonho que meus quatro pequenos filhos viverão um dia numa nação onde não serão julgados pela cor da sua pele, mas pela qualidade do seu caractér.

Tenho um sonho, hoje.

Tenho um sonho que um dia o estado de Alabama, cujos lábios do governador actualmente pronunciam palavras de ... e recusa, seja transformado numa condição onde pequenos rapazes negros, e raparigas negras, possam dar-se as mãos com outros pequenos rapazes brancos, e raparigas brancas, caminhando juntos, lado a lado, como irmãos e irmãs.

Tenho um sonho, hoje.

Tenho um sonho que um dia todo os vales serão elevados, todas as montanhas e encostas serão niveladas, os lugares ásperos serão polidos, e os lugares tortuosos serão endireitados, e a glória do Senhor será revelada, e todos os seres a verão, conjuntamente.

Esta é nossa esperança. Esta é a fé com a qual regresso ao Sul. Com esta fé seremos capazes de retirar da montanha do desespero uma pedra de esperança. Com esta fé poderemos transformar as dissonantes discórdias de nossa nação numa bonita e harmoniosa sinfonia de fraternidade. Com esta fé poderemos trabalhar juntos, rezar juntos, lutar juntos, ir para a prisão juntos, ficarmos juntos em posição de sentido pela liberdade, sabendo que um dia seremos livres.

Esse será o dia quando todos os filhos de Deus poderão cantar com um novo significado: "O meu país é teu, doce terra de liberdade, de ti eu canto. Terra onde morreram os meus pais, terra do orgulho dos peregrinos, que de cada localidade ressoe a liberdade".

E se a América quiser ser uma grande nação isto tem que se tornar realidade. Que a liberdade ressoe então dos prodigiosos cabeços do Novo Hampshire. Que a liberdade ressoe das poderosas montanhas de Nova Iorque. Que a liberdade ressoe dos elevados Alleghenies da Pensilvania!

Que a liberdade ressoe dos cumes cobertos de neve das montanhas Rochosas do Colorado!

Que a liberdade ressoe dos picos curvos da Califórnia!

Mas não só isso; que a liberdade ressoe da Montanha de Pedra da Geórgia!

Que a liberdade ressoe da Montanha Lookout do Tennessee!

Que a liberdade ressoe de cada Montanha e de cada pequena elevação do Mississipi.

Que de cada localidade, a liberdade ressoe.

Quando permitirmos que a liberdade ressoe, quando a deixarmos ressoar de cada vila e cada aldeia, de cada estado e de cada cidade, seremos capazes de apressar o dia em que todos os filhos de Deus, negros e brancos, judeus e gentios, protestantes e católicos, poderão dar-se as mãos e cantar as palavras da antiga canção negra: "Liberdade finalmente! Liberdade finalmente! Louvado seja Deus, Todo Poderoso, estamos livres, finalmente!"

Ecoterrorismo

Há poucos dias atrás Portugal entrou num roteiro de países que não têm nada de se orgulhar de pertencer a esse mesmo roteiro. É verdade que o termo de Ecoterrorismo pode ser contestado e certamente que o foi por parte de alguns. Na minha modesta opinião, o título está bem atribuído. Por terrorismo, entendo a acção planeada com vista à destruição, feita com base em pressupostos religiosos, económicos ou políticos, e creio que não hajam dúvidas de que foi isso que aconteceu em Silves.
Sempre fui defensor da lei e da ordem e acredito sinceramente que um dos pilares que sustenta a nossa civilização Europeia, Ocidental e Democrática é o facto de existerem inúmeras formas de contestação a decisões e medidas em relação às quais somos adversos.
Quando um bando de energúmenos e de merdinhas mal comportadas recorre à destruição de propriedade privada alheia, não me interessam as razões que os levaram a fazê-lo, interessa-me o facto de eu poder ser o próximo se outro qualquer grupo de aborígenes entender que não gosta do facto de eu fumar, da roupa que visto ou da côr do meu carro. Em situações destas, há uma linha traçada na areia e de um lado estão as pessoas que entendem como uma democracia funciona e do outro lado estão os pós revolucionários que em nome dos novos amanhãs que cantam acreditam tudo ser possível para impôr a sua visão iluminada de um admirável mundo novo.
Discutir o número de agentes da GNR presentes ou a postura por eles assumida é como olhar para o acessório e não entender o essencial. Pôr em causa o governo numa situação como a ocorrida é jogar o jogo do populismo bacoco e retrógrado que tanto pasto tem tido neste país.
Em Silves houve uma batalha. Foi uma batalha entre a civilização e a barbárie, entre a ordem e o caos, entre a lei e a selvajaria. Não me interessa sinceramente a história dos transgénicos, não me interessaria nada do que se passasse naquela horta, o que me interessa é o facto de eu viver numa sociedade que é, ou pretende ser, justa, democrática e civilizada, e numa civilização dessas existem forças policiais que, em nome da lei e da constituição aplicam as regras estabelecidas. Não me interessa o que se planta naquela horta, o que me interessa é que, se alguma ilegalidade for cometida, as forças policiais, em nome do poder judicial ao qual respondem serão chamadas a intervir. O que me interessa é que desde o momento em que a porta do poder popular e da selvajaria das massas for aberta, jamais será fechada. Ontem foi por causa dos transgénicos amanhã será por que causa ?
Quem nos poderá tranquilizar quanto ao próximo alvo de uma brigada fascizoide de vigilantes que não gostam de algo que façamos e que esteja disponível a agir em nome próprio, ou mais grave ainda, em nome de um qualquer pressuposto ideológico para o qual se acham representantes terrenos de um dogma superior.
Acções destas só podem ser combatidas levando os responsáveis a prestar contas perante a lei que não tiveram pejo em escarrar publicamente. Temos que o fazer, como povo e como sociedade, porque a alternativa, embora simpática pontualmente para alguns, será trágica futuramente para todos.

Tratado de Tordesilhas

Mais um evento histórico que vale a pena recordar. A 7 de Junho de 1494, D João II de Portugal e os reis católicos de Castela e Aragão sentaram-se e patrocinados pelo papa da altura, também ele Castelhano, dividiram o mundo descoberto e a descobrir entre os dois países Ibéricos.
Aquilo que pode ser considerado como uma das maiores arrogâncias da história foi o ponto mais alto da política externa Portuguesa e o expoente máximo da nossa diplomacia na geoestratégia mundial. Há quem diga que foi um excelente negócio para Castela, que ficou com um continente quase inteiro ao seu dispôr, eu sou defensor da teoria que D João II conseguiu tudo o que quis e cedeu tudo o que achava dispensável. Portugal ficou com a rota da Índia segura, afastou os comerciantes e piratas Castelhanos das feitorias africanas e conseguiu uma importante presença na América do Sul através das terras de Vera Cruz, o actual Brasil. Na defesa desta teoria do embuste tecido pelo nosso D João II está a teoria segundo a qual Cristovão Colombo terá trabalhado em favor de Portugal, teoria essa ainda muito posta em causa mas cada vez com mais seguidores. Independentemente das polémicas, a assinatura do tratado de Tordesilhas foi o momento que marcou a política externa Europeia durante pelo menos 150 anos. Podemos achas pouco, dada a imensidão da história, mas se olharmos a outros momentos chave da história da Europa, como por exemplo, o tratado de Westfalia, o tratado de Viena ou a paz de Versalhes e compararmos o tempo que ambos duraram com o tempo que o tratado de Tordesilhas esteve em vigor, podemos ver o quão importante para a história foi o dia 7 de Junho de 1494.

Queda de Constantinopla

Fez ontem 554 anos da queda da cidade de Constantinopla às mãos dos turcos Seldjucidas. A antiga capital do império Bizantino encontrava-se à largos anos em decadência e o outrora imponente império, descendente directo do império romano do oriente, já estava reduzido apenas à sua capital que caiu em 30 de Maio de 1453.
Esta queda marcou o final da idade média, e a fuga generalizada de escritores, escultores, pintores, entre outros para as cidades italianas deu origem a um redescobrir da cultura clássica Grega e acelerou a passos largos o renascimento italiano.
Para os turcos e para o islão, esta conquista marcou a sua reentrada na Europa, depois dos progressivos revezes que culmiram com a sua expulsão da península ibérica, consumada em 1492 com a queda de Granada. Despois de Constantinopla, seguiu-se a conquista da Grécia e dos Balcãs, tendo a maré turca atingido mesmo Viena por duas vezes onde foi travada.
Hoje, mais de 5 séculos depois fala-se novamente da entrada da Turquia na Europa, se bem que de forma completamente diferente. O tema suscita paixões e a maior parte das reacções são mais emotivas do que racionais. Voltarei a esse tema daqui por uns dias. Por hoje resta-me comemorar a data que marcou o final da longa noite que se abateu na Europa, chamada Idade Média.

Assim morre uma Democracia

Há quem diga que foi há muito tempo, mas para mim foi anteontem que a Venezuela atravessou o ponto de não retorno na sua constante caminhada para o totalitarismo. De uma forma planeada e progressiva Chavez tem levado a sua revolução Bolivariana a suprimir liberdades e garantias dos seus cidadãos, o direito à prática de oposição e a promover uma intimidação económica e social contra os seus opositores. Desta vez desencadeou um ataque à imprensa livre ainda existente e cujo símbolo emblemático era o mais antigo canal privado venezuelano. Quero ver depois de mais este episódio se ainda vão aparecer por cá uns fósseis a defender Chavez, só porque ele enfrenta o imbecil inquilino da Casa Branca.

Momentos Naturais

Além de Biólogo por formação, tenho uma paixão inexplicável pela natureza. Sempre gostei de assistir e de conhecer a sua forma muito própria de funcionar, forma essa que não pode ser comparada com as regras da nossa sociedade, mas que deve ser preservada como um património da humanidade, pois para os mais esquecidos, foi na natureza que a nossa espécie nasceu e sobreviveu, muito antes de ter começado a considerar a natureza como sua propriedade privada.
Descobri há uns dias atrás um blog dedicado apenas à divulgação de fotos sobre essa natureza que convive connosco diariamente, apesar de nos darmos ao luxo de só a tentar conhecer em programas de televisão.
No blog momentosnaturais.blogspot.com podemos encontrar um pouco daquilo que nos pertence e do qual fazemos parte. Pela Objectiva de Pedro Koch, podemos quase nos lembrar de quem fomos e do extraordinário e dificil caminho que trilhámos antes de nos tornarmos na espécie dominante deste planeta que, estupidamente, insistimos em assassinar em próprio proveito.
Pedro Koch é um verdadeiro embaixador, não de um país, mas de um mundo que ainda existe mesmo contra todos os nossos esforços.
Vejam, apaixonem-se e disfrutem. Aquilo existe à vossa porta, nos vossos quintais, nas nossas vidas, mesmo que não nos lembremos dele com a frequência que merece.

Que inveja !!!

Uns dias atrás em conversa com um Amigo, acabámos a falar sobre filmes. No meio do nada ele foi buscar uma caixinha de recordações e partilhou comigo um autêntico tesouro, todos os bilhetes de cinema de todos os filmes que viu na vida. Poucas vezes senti tanta inveja de alguém como dele naquele momento. Sou um cinéfilo inveterado e quem me dera a mim ter um "album" de recordações daquele calibre.
Entre as estreias da Guerra das Estrelas e as várias exibições do The Wall, entre os Indiana Jones e os vários 007s, passaram-me pelas mãos em 15 minutos mais de duas décadas de cinema. Foi como ver em slow motion todos os heróis da minha juventude e ele tem uma prova disso e eu apenas uma memória.
Obrigado Ilídio. Fizeste-me reviver muito do que sonhei e assisti numa sala na companhia de muitos desconhecidos. Felizmente tens como comprovar que lá estiveste, eu posso apenas falar sobre isso, e, invejar enormemente esse teu património.

Presidenciais Francesas

Correndo o risco de ter que me desdizer daqui por umas horas, creio que Sarkozy será o próximo Presidente da França. A figura não me inspira confiança nem simpatia nenhuma, ao contrário de Segolene Royal, mas a realidade é que os socialistas franceses não continuam amarrados a posições políticas que os impedem de vencer eleições.
A França é o mais estatista país da União Europeia e o PS Francês continua a viver à sombra de ideias e políticas que já não são sustentáveis. Hoje a França é uma economia que não cresce, apresenta um défice superior ao nosso e não quer fazer as reformas necessárias para inverter este rumo de paralisia.
Ironicamente Ségolene é a mais "Blairista" dos dirigentes socialistas franceses e seria a pessoa ideal para recentrar o discurso e as políticas do PSF, mas a plataforma política que apresentou a estas eleições reflectiu antes de mais a pacificação interna e as cedências que foi obrigada a fazer.
Espero que a sua derrota seja o menos pesada possível para que possa sobreviver politicamente à noite de hoje. Considero-a a pessoa certa para levar o PSF de volta às vitórias mas muito caminho ainda terá que ser trilhado antes disso.

A licenciatura de Sócrates

Não tenho mexido nem comentado o tema porque sinceramente não achei que merecesse grande importância। Não posso contudo deixar aqui três das melhores análises que li até agora: Paulo Gorjão ,Tomás Vasques e Emídio Rangel.

Gatos


Aí estão os Gatos de volta. Desta vez não foram tão elaborados como quando reduziram às gargalhas o contorcionismo argumentativo do professor Marcelo. Desta vez limitaram-se a elevar ao expoente do ridículo uma campanha já por si ridícula.
Há quem não goste deles.Há quem ache que não se deve gozar com coisas sérias. Eu cada vez mais acho muito mais perigoso levar-se a sério determinadas palhaçadas.

Força aí Gatos !!!

Grandes Portugueses

Tem havido ultimamente uma grande polémica sobre o programa televisivo " Os grandes portugueses". Chamo programa televisivo porque é o que aquilo é, um programa de televisão de entretenimento, nada mais do que isso. Não é uma realidade histórica, não é uma verdade absoluta, nem sequer é uma sondagem a nível nacional. Grande parte da discussão centra-se na importância a dar aos seus resultados. Na minha sincera opinião, eu dou-lhe alguma importância, a importância de um peido. Ouve-se, envergonha-nos, deixa um mau cheiro no ar, e depois vem o vento, e leva-o para longe, para o esquecimento.

Imbecis

Nem sei bem o que escrever. Cada vez tenho menos paciência para estes selvagens mal educados.

BlogEUA

Tenho um blog novo. O BlogEUA foi criado apenas para assuntos relacionados com a história e a política dos Estados Unidos da América. Espero que o visitem e que gostem.

Triste

Houve um encontro comemorativo da adesão de Portugal à CEE/UE patrocinado pelo Presidente da República, onde várias personalidades associadas à política externa e europeia portuguesa foram convidadas. Mário Soares, o homem que iniciou e consumou o processo de adesão, não foi convidado.
Eis uma prova como Cavaco, apesar de já não empanturrar a boca com bolo rei, pelo menos em público, continua boçal, saloio e revanchista.
Foi um triste exemplo.

Público

Lamento muito mas, depois de várias tentativas para manter a nossa relação, não dá mais. Sou leitor diário desde 3 de Agosto de 1990 mas o Público foi por um caminho para onde não o quero seguir. Hoje comprá-lo-ei pela última vez para guardar uma recordação, e uma prova de que é possível um palácio transformar-se num esgoto.

Paulo Portas fundou um jornal. Paulo Portas usou o jornal para promover a refundação do CDS, para lhe marcar a agenda e para atacar pela direita os consulados de Cavaco à frente do PSD e do país. Paulo Portas deixou o jornal e aderiu ao partido cuja criação manipulara e deu as mãos a Manuel Monteiro, cuja existência criara. Paulo Portas minou, atraiçoou e substituiu Manuel Monteiro. Paulo Portas entrou em conversações com Rebelo de Sousa com vista à formação de uma coligação e torpedeou-o no último momento. Paulo Portas foi para o governo com Durão Barroso e lá continuou com Santana Lopes. Paulo Portas demitiu-se sem que ninguém o tenha exigido e abandonou o seu partido à orfandade. Paulo Portas levou dois anos a boicotar na sombra e de forma ostensiva a liderança de Ribeiro e Castro. Paulo Portas recandidatou-se à liderança do PP prometendo vencer, refundar e liderar a direita e conduzir o nosso atormentado país ao reino dos céus e à paz de Cristo.
Com este currículo brilhante, Paulo Portas esperou um passeio triunfal de volta à liderança do seu antigo couto privado. O que ele não esperou foi que ainda existisse um “velho” CDS, genuinamente Democrata Cristão, europeísta, conservador e pouco dado a arrivismos e a populismos de feira, mesmo que vestidos com fatos de lorde Inglês.
Neste contexto, e com esta resistência, só havia uma coisa a fazer, apostar nas directas. Aqui, e ajudado pela incoerência de Ribeiro e Castro, o povo do PP poderia estender o tapete vermelho ao seu “grande líder”, mas para isso ainda havia questões estatutárias a resolver na reunião do Conselho Nacional. Como os estatutos davam razão à petição de mais de 1000 militantes para ser feito um congresso, ainda houve um recurso, o recurso à selvajaria. Num ambiente próprio de um estádio de futebol, um bando de aborígenes disfarçados de gang suburbano tentou manipular, condicionar e intimidar a reunião do órgão máximo do CDS/PP entre congressos. Maria José Nogueira Pinto não foi em golpadas e fez o que os estatutos mandaram, mesmo contra a turba inflamada e com evidentes riscos para a sua integridade física. No final foi o que se viu. Um espectáculo deplorável dado por um partido que se orgulha de pertencer ao arco governativo português. O partido que afirma, como se de uma medalha de honra se tratasse, que esteve sitiado durante um congresso no verão quente, sitiou, ameaçou, insultou e agrediu os seus próprios dirigentes numa reunião. Na mão desta mistura entre sobas africanos e caudilhos sul americanos, até o triste Manuel Monteiro passa por estadista sério e responsável.
Eis a gloriosa direita portuguesa no seu máximo esplendor.

Por que é que gosto de ler ?

Para o Humberto, depois deste tempo todo ainda não consegui quantificar a falta que me fazes.
Para o meu Pai e as minhas queridas amigas Gabriela Koch e Cândida Lucas, os três maiores mestres que tive na vida.
Para a Célia, a minha Professora de Português, de sempre e para sempre.
Para os meus alunos, o que tenho de melhor é a vós que o dedico, é a vós que o entrego.

Se vos perguntar o que sabem da minha vida, é provável que consiga algumas respostas certas. Sabem que sou de Olhão, que tenho 32 anos e que sou solteiro. Sabem ainda que, além da escola, divido o meu tempo com a Junta de Freguesia, que tirei o curso em Braga e vivi no norte alguns anos. Sabem que sou benfiquista, que tenho um opel corsa cinzento velhinho e, consoante as opiniões, tenho um bom sentido de humor, ou mando piadas muito secas. Estas são as respostas que qualquer um de vocês daria. Agora o que não vos passa pela cabeça é a vida que tenho para trás de mim, e não estou a falar só da vivida. Há ainda a outra, a que vivi através dos livros que estudei e li desde os meus 14 anos. Nessa outra vida “escondida” são tantas as experiências e recordações que tenho para vos contar.
Já fui pescador e contrabandista, salteador e pirata. Naveguei com Colombo, Drake e Vasco da Gama, escrevi a crónica do achamento do Brasil, senti o cheiro da pimenta da Índia e da noz-moscada das Molucas. Conheci todos os ventos e correntes, assisti a inúmeras marés, tratei por tu tempestades e banhei-me nos sete mares. Vi o nascer do Sol nas praias do Levante, relâmpagos assustadores nos trópicos, tornados, tufões e até a sismos e erupções vulcânicas eu sobrevivi.
Construí cidades e arrasei civilizações. Seduzi e conquistei rainhas e fui abandonado e desprezado por plebeias. Fui soldado e general, rei e escravo. Lutei pela Liberdade e oprimi revoltas contra a minha tirania.
Lutei com os elfos na Terra Média, vi o nascer das primeiras estrelas nas praias de Beleriand, visitei Valinor, estive na destruição de Numenor e festejei com o rei Aragorn a queda de Sauron.
Lamentei a queda do império romano, assisti à cavalgada imponente dos Mongóis e participei no banho de sangue das cruzadas. Estive presente na defenestração de Praga e não consegui evitar a destruição de Heidelberg durante a guerra dos 30 anos.
Fui pagão e cristão, judeu e gentio, muçulmano, budista e hindu. Louvei deus de todas as formas até ter desacreditado da sua existência.
Defendi a escravatura no Brasil e fui abolicionista nos Estados Unidos. Assaltei a Bastilha, liderei a carga de cavalaria em Austerlitz e morri em Waterloo. Fui preso em Alcatraz e fugi do castelo d´If.
Fui um dos primeiros pedreiros livres a fundar uma loja maçónica e um dos últimos templários a arder nas fogueiras de Filipe, o Belo, rei de França.
Fui mosqueteiro e ginete, legionário e hoplita, janisário e granadeiro. Derramei sangue, suor e lágrimas em todos os campos de batalha da história, mas isso não chegou, eu precisei de mais.
Pintei as minhas lágrimas, esculpi a minha própria dor, escrevi, recitei e cantei em línguas há muito desaparecidas. Fui epopeia de Homero, estrofe de Shakespeare, verso de Beaudelaire e soneto de Camões.
Amei até ao expoente do desespero, odiei até me odiar por sentir tanto ódio e sonhei, e sonhei e sonhei até detestar a luz do dia por me manter acordado.
Vi de perto o melhor da humanidade e assisti às suas páginas mais negras. Escrevi uma parte da declaração universal dos direitos do Homem, segurei um dos andaimes durante a pintura do tecto da capela Sistina, guardei pergaminhos da biblioteca de Alexandria e vi o horizonte do topo de uma pirâmide, mas nada disso me fez esquecer do cheiro a carne queimada das fogueiras da inquisição nem do gás de Auchwitz.
Dei as primeiras pancadas de Moliére, dancei na Broadway e representei com Eurípedes nos anfiteatros atenienses. Venci campeonatos inteiros com jogadas e golos geniais, quebrei recordes olímpicos e corri mais rápido que a minha própria sombra.
Fui corrente do golfo e vento alísio, cheia do rio Nilo e monção asiática. Plantei ervilheiras de cheiro para Mendel, ajudei Darwin na viagem do Beagle, fui uma das primeiras cobaias de Fleming, e, confesso, fui eu que esborrachei a maçã no focinho de Newton antes de ele escrever a teoria da gravidade.
Fui electrão e átomo, molécula e colóide, mas o que gostei mais foi de, como enzima, ter digerido açúcares, construído proteínas e, até, de ter separado as duas cadeias do DNA. Fui vibrião, vírus e bacilo. Apaixonei-me por uma levedura e acabei completamente bêbado dentro de uma garrafa de vinho tinto.
Assisti à separação da Pangea, vi a morte em agonia dos últimos dinossauros e observei como um pequeno grupo de roedores evoluiu até aos primatas e como um grupo desses primatas deu origem a uma espécie que, apesar de chamada Homo Sapiens, não revela inteligência nenhuma na forma como assassina o meio ambiente de que necessita para sobreviver.
Em tudo isto estive presente, apesar de indirectamente, mas não me chega. Quero e preciso de ver mais, conhecer mais, viver mais e sentir mais. Muitas outras viagens e descobertas farei e, meus queridos alunos, partilhá-las-ei convosco, sempre que a isso se disponham.
Para tal, só preciso de um tempinho livre, e … de um livro nas mãos.



Sérgio Nicolae Santos
Aljezur, 12 de Fevereiro de 2007

Paixões da minha vida - Quelfes

Sempre fui moço de Olhão. Por capricho da divisão administrativa do meu Concelho vivo na parte da cidade que pertence à Freguesia de Quelfes mas sinceramente nunca liguei muito a isso. Durante toda a juventude a minha vida foi passada no eixo que vai da minha casa à Escola Secundária e daí à baixa de Olhão e à Ria Formosa. Nunca me preocupei muito em conhecer essa terra que era sede da Freguesia à qual pertencia, nem sequer me preocupou muito a necessidade de existência de uma Freguesia, além dos atestados que passava e do recenseamento que fazia.
Um dia tudo mudou, e ainda bem. À saída de uma reunião partidária um camarada que eu conhecia como o Presidente da Junta de Freguesia de Quelfes perguntou-me pela minha colocação e se continuaria exilado no norte ou se ia regressar a casa. Confesso que na altura a conversa me pareceu estranha, e ainda mais admirado fiquei quando fui convidado a integrar a sua equipa nas eleições que se avizinhavam.
Fui considerado e tratado desde o início como um bom quadro a desenvolver e a treinar para o que quer que o futuro reserve e só o meu desconhecimento inicial, aliado a colocações sempre afastadas de casa impediram de me envolver ainda mais na gestão autárquica de Quelfes.
Com o tempo aquele enorme manto de desconhecimento que me envolvia em relação à Freguesia que fora chamado a ajudar a gerir foi desaparecendo, e eis que chegamos ao dia de hoje, em que dificilmente consigo manter uma conversa com alguém sem falar na "minha" Freguesia.
Quelfes é mais antiga que Olhão, tendo aliás Olhão feito parte da Freguesia de Quelfes até à sua desanexação em 1695. É uma Freguesia com um amplo espaço rural e com uma cada vez maior área urbana, fruto do crescimento da cidade de Olhão. Quelfes já tem aproximadamente 14.000 mil habitantes, cerca de 60 km de caminhos rurais, 8 escolas do 1º ciclo e 3 EB 2,3 na sua área geográfica.
Depois, ainda há o que não aparece nas estatísticas. O nascer do sol num barco parado no meio da Ria Formosa quando até o silêncio soa de forma diferente. As amendoeiras em flor no Laranjeiro. Estar sentado na esplanada do Restaurante do Carmo ao final de uma tarde de Verão e sentir que o próprio tempo passa mais devagar. É tão linda a "minha" Freguesia.
E depois não são só os locais, há ainda e principalmente as pessoas. É um enorme prazer frequentar o mercado de Quelfes e ser cumprimentado por todas as caras conhecidas e também por muitas desconhecidas, e sentir uma honesta amizade. É tão terna a "minha" Freguesia.
Há ainda tudo o resto. Mais de 5 anos de participação na gestão de Quelfes. As inúmeras reuniões, as incontáveis horas passadas. As vitórias e derrotas diárias, o sabor amargo de objectivos não atingidos e a indescritivel alegria de obras trazidas à luz do dia. Entre o agradecimento de pessoas cujos problemas resolvemos e a angústia de situações que estão para além do nosso poder resolver, há um meio termo que corresponde à sincera sensação de estar a dar o nosso melhor para melhorar as vidas de quem nos rodeia. Por muito que viva, onde quer que vá parar, o que quer que consiga realizar, estes anos de experiência autárquica são um património pessoal que nunca esquecerei na minha vida.
Quelfes vai da Ria Formosa à estrada Estoi - Moncarapacho. Da praia dos Cavacos quase à rotunda do McDonalds de Olhão. Da zona da Alecrineira até quase ao Lagoão, ocupando cerca de 2100 hectares. É tão grande a "minha" Freguesia, mas bem aconchegada, consegue caber num cantinho do coração.

A Grande Sociedade

Faz hoje 42 anos que o Presidente Americano LBJohnson no discurso do estado da nação lançou as bases do seu programa legislativo que ficou conhecido como A Grande Sociedade. Aproveitando uma conjuntura política interna bastante favorável, com os Democratas a controlarem o Congresso e o Senado, LBJ levou ainda mais longe o New Deal de Roosevelt e criou um estado social sem paralelo na história Americana.
Nos quatro anos do seu mandato, dos direitos civis à saúde, da educação ao apoio à cultura, da imigração aos direitos dos povos nativo americanos, Jonhson imprimiu uma dinâmica legislativa que mudou a face dos Estados Unidos da América.
Johnson está na história pelo pior dos motivos, devido ao afundamento do exército Americano na infantil aventura do Vietname, mas para lá desse gravíssimo erro, está também aquela que foi provavelmente a mais progressista agenda política da história dos EUA.
Lyndon B. Johnson, merece certamente que o seu legado seja integralmente reconhecido, e não apenas a parte respeitante à guerra ridícula e suicidária que travou na península da Indochina.

Referendo ao Aborto

Desde que o Presidente da República marcou a data do novo referendo que começou a contagem de espingardas em ambos os lados da barricada. Até aqui, nada de novo nem de extraordinário, mas a campanha que se avizinha não me parece que traga algo de bom ou de construtivo ao debate.
Mais uma vez, a campanha contra a Interrupção Voluntária da Gravidez terá como ponta de lança a Igreja e os sinais já dados fazem prever mais um vendaval de demagogia infantil e de irresponsabilidade argumentativa.
Já circulam mails enviados em massa com o discurso retardado de sempre, e aposto que não faltará muito para as indiscritiveis fotos de abortos realizados. Para ajudar à festa, até já esse aspirante a Torquemada que se senta no trono papal comparou o aborto ao terrorismo para gáudio de muitos.
Sejamos honestos, considero o aborto como um drama pessoal e como uma decisão de uma dificuldade e complexidade que talvez não tenha parelelo na vida de uma mulher que por ele opte. Considero a maternidade como uma relação afectiva que se desenvolve entre a futura mãe e o futuro ser que nela se desenvolve. Considero que o não desenvolvimento dessa relação é dramático e por muito que ache a interrupção da gravidez como antinatural, não me sinto na capacidade, na moralidade ou no direito de decidir se uma mulher deve ou não gerar uma vida que não sente como parte de si.
Sou contrário ao aborto, mas sou ainda mais contrário a uma lei que obriga as mulheres a serem meros instrumentos reprodutivos. Sou contra o aborto mas sou ainda mais contra a criminalização de mulheres que decidem que ninguém as deve obrigar a ser mães. Sou contra o aborto, mas existindo ele, como sempre existiu, prefiro que seja feito em hospitais públicos com segurança, do que em vãos de escada sem apoio, segurança ou condições de higiene.
Gostava de assistir a um debate sério mas não me parece que vá ter essa sorte. Gostava de ver debatida a educação sexual nas escolas, o acesso a consultas de planeamento familiar, as condições psicológicas das mulheres que optam por abortar e as feridas que tal decisão deixa, a capacidade do nosso sistema de saúde responder a uma possível discriminalização do aborto, mas nada disso acontecerá.
Lamento pelo facto mas desta vez, ao contrário de há 9 anos, não só votarei como participarei na campanha. Não será por mim que o " campo de batalha " ficará ocupado só pelos inquisidores mor da santa madre igreja e tenho esperança que mais uma vez haja um passo em frente no sentido de pararmos com a criminalização daquelas que têm a coragem de tomar a sua vida nas suas mãos e que possamos derrotar e varrer para o caixote do lixo da história este fascismo moral que continua a vigorar em Portugal.

Regresso

Pois é, depois de um prolongado afastamento, está na hora de regressar.
A todos um feliz 2007 !!!!

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