Descobri no jugular a frase mais linda sobre estas eleições : " Rose Parks sentou-se para que Luther King pudesse marchar. Luther King marchou para que Obama pudesse voar ".
Para quem não reconhece os nomes, Rose Parks foi a costureira de Montgomery, Alabama, que se recusou a sair da sua cadeira para dar lugar a um branco num autocarro e a sua atitude foi das principais alavancas para o movimento pelos direito cívicos na década de 60. Martin Luther King liderou os movimentos de protesto e no seu célebre discurso " Eu tenho um sonho" em agosto de 1963 lançou os alicerces de uma sociedade que então não passava de uma miragem. Hoje, apenas passada uma geração, Barack Obama atingiu o que muitos sonharam, embora poucos tivessem a coragem de o afirmar, um negro é Presidente eleito dos Estados Unidos da América.
Poucos dos problemas que afligem e corroem a sociedade americana serão resolvidos com esta eleição. As guerras entre gangs de negros e hispânicos nos bairros degradados das cidades não cessarão, o déficit federal não desaparecerá facilmente, os soldados americanos não deixarão de alvejar nem de ser atingidos onde quer que andem pelo mundo. Chavez não ganhará juízo, o Irão não reconhecerá Israel, os Palestinianos não farão a paz entre eles e com os Judeus e a Coreia do Norte, ao contrário do que diz Bernardino Soares, continuará a investir rios de dinheiro em programas bélicos enquanto o seu povo morre à fome.
Não existem na política nem na geoestratégia varinhas de condão, apesar do campo ser fértil em ilusionistas. Barack Obama tem sobre os seus ombros o peso da esperança que criou e o lastro dos resultados que se lhe exigirão quase automaticamente. Não acredito que faça um décimo do que dele esperam, mas a política é isso mesmo, a gestão de vontades, a procura de soluções e a assumpção de prioridades, com todos, por todos e para todos, como escreveu Lincoln. Costuma-se dizer que as campanhas eleitorais são feitas em poesia e o governo em prosa. Obama não mudará o mundo mas pode mudar a forma como o mundo se relacionará e verá os Estados Unidos da América que, para infelicidade de muitos continua a ser o farol da Liberdade e da Democracia no planeta.
Digam o que disserem, o dia 4 de novembro de 2008 entrará na história. Há 40 anos Obama não poderia entrar em certos transportes públicos nem estudar em certas escolas. Há 60 não poderia servir no exército e há 100, apesar de previsto constitucionalmente, não conseguiria votar. Há 150 anos seria escravo, tal como os seus ascendentes e as suas lindas filhotas teriam nascido propriedade de alguém.
Muito precisa de mudar na sociedade americana mas por mais graves que sejam os problemas e as injustiças que lá resistem, há também isto, a capacidade de o filho de um pastor Queniano e de uma americana aos 47 anos nos lembrar que sim, tudo é possível, que sim, nós podemos.
" Se ainda anda por aí alguém que duvida que a América é o local onde tudo é possível, que ainda pensa se os sonhos dos nossos fundadores ainda estão vivos, que ainda se questiona sobre o poder e a força da nossa democracia, esta noite é a vossa resposta".
Barack Hussein Obama
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