Paixões da minha vida - VivArte





Foi em Abril de 1991 em Miranda do Corvo. Estava no primeiro Encontro de Teatro de Escolas da minha vida e depois de uma valente seca servida por um grupo qualquer cujo nome não me recordo, vi no programa que a próxima peça se chamava "Este mundo e o outro" e era de um grupo de Oliveira do Bairro chamado Vivarte. Encostei-me na cadeira e vai lá de ver o quê que aí vinha. A entrada em palco foi simpática, depois com o decorrer da peça as coisas foram aquecendo e no final eu, o Humberto e o Evaristo saímos com a dor de barriga de tanto rir e fizemos questão de felicitar os autores da proeza. Essa foi só a primeira vez e muitas se seguiram. Foram feitos muitos intercâmbios entre os nossos grupos e muitas vezes nos encontrámos em diferentes pontos do país. Depois de "Este mundo e o outro" vieram "Alguns exercicios de estilo à volta de uma estátua", provavelmente a peça de teatro que mais vezes vi na minha vida. Assisti aos ensaios numa bela tarde na Escola Secundária de Oliveira do Bairro e quando uma pneumonia me atirou para a cama no Encontro de Teatro na Escola de S Pedro do Sul em Abril de 1992 e me impediu de ver a estreia, o Vivarte respondeu deslocando-se ao sítio onde eu estava e fez uma representação da peça da qual eu tinha visto os ensaios. Há atitudes e pessoas que não se esquecem e amizades que mesmo 15 anos depois parecem estranhamente próximas e eu sei que nunca me vou esquecer da Sónia, Emília, Carla e Pedro Mota, Raquel, Susana e Filomena, já nem sequer falando do criador, encenador, director e ditador vitalício do grupo, o Mário da Costa.
Depois desse ano de 92 grande parte dos membros do grupo saíram devido às inevitáveis entradas na universidade mas foram substituídos e o Vivarte continuou. Foi o ano dos "Dez Cobrimentos" que voltei a assistir aos ensaios desta vez no Encontro de Teatro de Escolas do Porto, e ainda tive a honra de representar a peça sozinho com o Mário e com Deus para os actores do grupo no final de uma noite muito bem regada. Nesse ano de 93 já estava na Universidade do Minho e ia apertando o meu orçamento o mais que podia para no fim de cada mês ir ter com eles onde quer que andassem a espalhar o seu estilo teatral conhecido como a "Estética da Desbunda". Foi assim em Oliveira do Bairro, Valongo do Vouga, Sangalhos, Ílhavo, Montemor o Velho, Olhão e nem sei bem onde mais. Foi o ano em que ganhei o título de Fã Nº 1 do grupo, título esse sinceramente merecido. Mais anos vieram e mais mudanças no grupo mas o amor dedicado ao Teatro e a entrega apaixonada a uma missão sagrada de fazer o público rir e sentir-se bem consigo próprio não desapareceu. Há alguns anos atrás o VivArte profissionalizou-se e especializou-se em Teatro Medieval, campo no qual foram pioneiros neste país. Hoje é vê-los por aí. Onde há uma festa ou um banquete medieval lá estão eles. Com os duelos, leilões de escravos, queimas de bruxas e ataques a castelos. De Bragança a Castro Marim, de Sagres a Sta Maria da Feira passando por Óbidos, Belver e muitos outros sítios, quando ouvirem os tambores e gaitas de foles tenham cuidado. É muito provável que seja alguém a anunciá-los e se pararem para os ver, nem que seja uns breves minutos, correm o sério risco de se apaixonarem.
Aconteceu comigo, há quinze anos, em Miranda do Corvo.

1 comentários:

Também eu me apaixonei pelos Vivarte - um verdadeiro caso de paixão à primeira vista. Conheci-os em 97 quando a meio do jantar das comemeorações dos 10 anos do Grupo Teatro da Vida, grupo do qual eu fazia parte, rompe pela cantida da Escola Secundária Doutor Francisco Fernandes Lopes a dentro um homem de cabelo grisalho montado nas suas andas e seguido por alguns dos seus alunos igualmente trajados à era medieval, era Mario Costa e o seu Vivarte. Aquela foi uma bela surpresa que o Grupo Teatro da Vida teve naquela noite, uma surpresa que marcou a amizade existente entre os grupos.
Tive a oportunidade de algum tempo depois frequentar um workshop de teatro de rua e malabarismo ministrado por um membro experiente do Vivarte, mais uma bela experiência que nos proporcionaram. A última vez que encontrei o Mário da Costa e o resto do grupo foi em Alcochete num encontro de Teatro na Escola. Fico contente e orgulho por eles cada vez que sei que estão aqui ou ali a representar, a recriar histórias e principalmente a transmitirem-nos o prazer que têm em fazê-lo. Precisamos de gente como vós. Obrigado pelo amor que têm ao teatro e nos contagiam.

14/8/06 16:21  

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