Esta é bem capaz de ser das expressões que são pior utilizadas. Quando dizemos “A montanha pariu um rato” estamos a fazê-lo num sentido pejorativo para indicar uma situação ou uma pessoa que muito prometeu e pouco cumpriu. É uma das melhores metáforas para indicar a nossa decepção perante um resultado que frustrou as nossas expectativas.
Olhemos agora para a mesma expressão e analisemo-la para lá das dimensões dos envolvidos, a montanha e o rato. Experimentemos por um momento comparar as suas naturezas. A da montanha, mineral, e a do rato, ser vivo. Uma montanha é uma estrutura geológica composta for rochas que são agregados de minerais. O Silício é o seu tijolo estruturante e, tal como todas as estruturas minerais, o seu segredo está na estabilidade da sua rede cristalina. A ordem e a organização são as suas leis e ninguém espera que uma montanha mude de forma, de cor ou de local por vontade própria. Ninguém espera que uma montanha faça o que quer que seja, a não ser ser erodida pela lenta e inexorável acção do tempo e dos fenómenos do meio ambiente. Um rato, por seu lado, é um ser vivo. O Carbono é o seu criador, o seu imperador e o seu destino. O rato é concebido, nasce, cresce, reproduz-se e morre. Basta uma das inumeráveis reacções químicas que ocorrem no seu corpo para estarmos na presença de uma complexidade infinitamente superior a tudo o que ocorre numa montanha.
Podemos então concluir que se uma montanha parisse um rato, estaríamos na presença de um milagre da natureza. Esta expressão é um claro exemplo de como as leis da natureza podem expor o real sentido de uma sabedoria popular. Que podemos fazer então ? Será que se ignorarmos as leis naturais as coisas funcionarão de forma diferente ?
Podíamos rasgar os estudos de Newton na esperança de que a gravidade desaparecesse e todos pudéssemos voar tão alto como os nossos sonhos. Se queimássemos os livros de Galileu talvez voltássemos a acalentar a esperança de que o nosso pequeno planeta voltasse a estar no centro do Universo. E o que dizer de Freud ? Não era giro acabar com o trabalho dele e voltar a acreditar que somos de facto conscientes de todas as nossas acções ? E Darwin ? Este então era lindo de destruir. Acabava de vez a selecção natural, deixávamos de ser um produto da evolução, com antepassados comuns com os macacos, e voltávamos a ser obra divina criada à imagem e semelhança de deus para reinar em seu nome sobre o mundo. Por falar em deus, e se reduzíssemos a cinzas a bíblia, o Corão e a torah ? Deus acabaria, o Olimpo voltaria com o seu cortejo de deuses humanizados e, ainda, com a vantagem de deixarmos de ter que aturar o Saramago. Será que tudo isto funcionaria ?
Não ! Não funcionaria. As ciências, sejam elas exactas ou inexactas, concretas ou abstractas, ocultas ou esotéricas, não criam nem inventam a realidade, apenas a tentam explicar. Ignorá-las, combatê-las ou repudiá-las não muda num milímetro o mundo em que vivemos. Estaremos então condenados a viver num mundo que pode ser explicado, compreendido e regido por leis científicas e equações matemáticas ?
Mais uma vez, não ! Claro que não ! Ainda temos a poesia.
Na poesia somos completamente livres. Podemos voar até onde quisermos, só pelo facto de o querermos. Podemos plantar sonhos em solos de nuvens e esperar pela Primavera para colher os seus frutos, as estrelas. Podemos enterrar flores no coração e chamar de sentimentos às suas pétalas. Somos capazes de amar o próximo e o distante, o presente e o ausente só porque estamos vivos ou porque queremos reavivar a vida de alguém. Na poesia não há regras a não ser as nossas, não há limites a não ser os que ultrapassamos. Há apenas vontade, que é a verdadeira inspiração para a Liberdade. Sejamos então poetas, sonhemos com anjos e construamos um mundo onde o impossível não passe de um conceito teórico criado para nos recordar o quão pequenos podemos ser se deixarmos de sonhar.
Então mas é ou não possível uma montanha parir um rato ? É pois ! Aconteceu hoje. O cerro de S. Miguel deu à luz um chinchila branco com as patinhas cinzentas e uma risca dourada na cabeça. Que tenha uma vida boa e que seja muito feliz.
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Sim... depois de desfazeres ideias, levantares o véu da desconstrução de conceitos ainda dogmáticos, afirmas que, afinal, o roedor sempre nasceu da rocha
Darwin ficaria perturbado ao saber tal facto e raptava-te, Freud internava os dois (para vos estudar). Saramago romancearia sobre estupidez da sociedade científica.
À volta disto tudo, o outro (não digo o nome porque já sabes qual é, e não é o 1º ministro) continuava a dizer que tinha razão: "Só sei que nada sei".
Unknown disse...
25/10/09 22:07