Algures perdida na memória está a fundação de Olhão. De acordo com os relatos que nos chegaram, o pólo aglutinador deste novo povoado foi uma grande nascente de água potável que estava situada num terreno seco cercado por pântanos e sapais.
Por uma daquelas ironias que fazem a história, a presença de água doce possibilitou a criação de uma terra que passou a viver da água salgada.
Os Olhanenses cedo descobriram de onde viria a sua riqueza e a sua glória. E viraram-se para o mar. Inicialmente fizeram-no por uma questão de sobrevivência e, só depois, perceberam as enormes possibilidades que se abriram à sua frente.
O povo de Olhão mariscou em todos os poros da ria formosa. Pescou na ria e, quando se lançaram no mar alto, fizeram-no com a coragem do desespero e empurrados por um impulso que só a fome pode dar.
As gentes de Olhão fizeram dos seus barcos extensões das suas casas, levaram a todos os cantos do mundo pedaços de si e da sua terra. Um barco a navegar é muito mais do que um meio de transporte, está muito além de uma simples obrigação profissional.
Há quem se perca fora de casa, há quem se sinta irremediavelmente desenraizado quando a distância o separa daquele pequeno mundo que é o seu. Os Olhanenses resolveram esse problema levando com eles esse pequeno mundo. Esculpiram-no em madeira, colocaram-lhe umas velas e deixaram que os seus sonhos substituíssem o vento e os levassem inexoravelmente em direcção ao infinito.
Venceram correntes e enfrentaram tempestades. Cavalgaram ondas e rasgaram auto-estradas marítimas onde nada havia, a não ser o bafo imponente do oceano.
Tudo iniciou com a pesca, mas foram vertiginosamente arrastados para o comércio, e, para a sua extensão legalmente duvidosa, o contrabando. Entre os mares de Larache e os portos da Sardenha, entre as enseadas da Bretanha e as águas tropicais do Brasil, lá estavam eles, à espera de ser encontrados. A pescar, a vender, comprar e contrabandear.
Os Olhanenses adoptaram o mar, e, fazendo-o, tornaram o mundo o seu quintal dos fundos. Entre viagens que se perdiam num tempo de espera que não terminava, entre lágrimas e naufrágios, Olhão cresceu sob alicerces de água salgada. Foi ao mar que lançaram as suas sementes, foi do mar que colheram os seus frutos.
Hoje, alguns séculos depois, apesar de afogados em dificuldades e mareados pela, há muito decretada, morte da pesca, ainda há em Olhão alguns descendentes de um povo que um dia decidiu pescar e navegar em direcção ao futuro.
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