É natal. Independentemente da simbologia religiosa que nada me diz, estamos numa época do ano muito especial. O natal deixou de ter piada há já alguns anos, pelo menos para mim. O tempo foi passando, eu fui envelhecendo, a minha família foi-se desarticulando e dois dos meus avós já por cá não andam.
À medida que a cronologia prosseguiu a sua cavalgada imparável, nem eu nem a minha irmã abastecemos a família de novos rebentos. O natal tornou-se numa espécie de anacronismo alimentado pela ditadura do calendário, mais do que por um verdadeiro espírito de união familiar.
Há quatro anos atrás, tudo mudou um pouco. Um casal de amigos, de grandes amigos, resolveu que a minha presença era importante, necessária, essencial, para que a noite de 24 para 25 de Dezembro deles fosse completa. Assim foi e este ano, pela quarta vez consecutiva, os últimos momentos do dia 24 de Dezembro foram passados com a família Carvalho.
Depois de passar a noite com parte da minha família, fugi para uma casa modesta e imponente que fica na zona histórica de Olhão. À entrada lá estava o "camarada Carvalho", como o trato há já muitos anos, e a Sidóninha. São os patriarcas, os faróis e os alicerces de um clã que ultrapassa todos os limites do compreensível no que diz respeito a amizade. Todos os anos juntam filhos e filhas, noras e genros, netos, bisnetos e até alguns amigos párias, entre os quais me incluo.
Aquela casa é uma orgia de alegria, um vendaval de amizade, um reino de amor e um império de carinho e de ternura. Na casa dos Carvalhos redescobri que uma simples noite pode justificar a existência de todo um ano. Todos cabem numa mesa, que mesmo limitada pelas leis da Física, é infindável pelas regras dos sentimentos.
Todos os anos há algo de novo para chorar. Uma doença de uma criança, Uma ameaça de perdição que paira sobre a cabeça de um adulto, um divórcio traumático ou um qualquer erro de percurso ou falta de rumo. Todos os anos há uma fraqueza inerente a estes seres, que por serem humanos, insistem em não acertar à primeira tentativa. Mas, todos os anos, os Carvalhos fazem uma festa. Fazem questão de desafiar este cruel destino comum aos mortais, que é a imperfeição. Teimam em olhar a vida nos olhos e dizer-lhe que não há nada que ela lhes jogue à cara que fique sem resposta.
Na casa dos Carvalhos existe mesmo Natal. É um exército de crianças que se alimenta da expectativa da chegada do pai natal, é o companheirismo que têm tatuado na pele, a amizade que lhes brota dos poros.
Lembro-me claramente de duas árvores de natal na minha vida. Uma verde e velhinha que alimentou o imaginário da minha infância em Oeiras. Outra branca que a minha mãe enfeitava com bolas vermelhas e enfeites dourados, já em Olhão. Ambas eram coroadas por uma estrela.
Precisei de viver 30 anos para descobrir uma árvore de natal com muitas, muitas estrelas. Todos eles, todos os Carvalhos são uma estrela.
Muitos há que têm um pinheiro de natal. Eu tenho um Carvalho de natal.
E é tão lindo !!!
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