Dia de vadiagem. Era inevitável. Parou a chuva, o céu despiu-se de nuvens e não teve vergonha de mostrar o nosso astro rei em toda a sua sedutora nudez.
Houve vontade, houve carro, houve companhia, que mais poderia faltar ?
Dois anos depois da saída de Aljezur, seis anos depois do regresso de Ourique resolvi voltar a um dos meus escapes favoritos para os finais de tarde sem planos ou vazios de destino. Saí cedo, muito cedo para o que é normal num dia de Domingo. O almoço foi pelo caminho, e a chegada foi calma e discreta. Entre Milfontes e Porto Côvo há muito para desbravar. Com a imortal música do Rui Veloso desce-se a pé aquela rua principal que leva à falésia. A rua está ladeada por lojas de recordações, como se fosse possível levar algum pedaço da maior recordação que se pode ter daquela terra, a beleza indescritível de uma paisagem natural bafejada com o dom da eternidade. A proximidade do mar sente-se a cada passo. O cheiro do mar inala-se a cada inspiração.
Porto Côvo é como um entreposto perdido numa fronteira entre dois mundos, mas eu hoje não saí de casa para ver fronteiras, foi para cruzá-las. A ilha do Pessegueiro está ali mesmo ao lado.
No ano em que dei aulas em Ourique costumava fugir para lá com um grupo de meia dúzia de colegas. Jantávamos no restaurante construído em madeira e rifávamos quem seriam os infelizes a estar sujeitos a dieta alcoólica para levarem os carros de regresso. Nessa praia passei uma noite terrível em Fevereiro de 2003, depois de ter saído do velório de um dos melhores amigos que alguma vez tive, e só ao nascer do Sol a abandonei a caminho da escola de Ourique. A praia em frente à ilha é um dos meus santuários. É dos poucos sítios onde me apetece deixar de ser ateu porque gostava mesmo de acreditar que aquilo foi desenhado por deuses e não pelas leis naturais que me enfiaram na cabeça nos anos de Universidade. Poucos são os sítios onde chorei e me consigo sentir feliz. Essa praia é um deles.
O Sol recolhe-se. A tarde termina. O passeio aproxima-se do seu epílogo. Regresso a Olhão aliviado. Foi um dia agradável. Sem saber e sem desconfiar, estava mesmo a precisar deste pedaço de Alentejo com sabor a mar.
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cu-cu !
Vicky disse...
19/1/10 17:01
Vicky ?!?!?
Mas ... és mesmo tu ? Não posso acreditar ...
De onde que raio saiste ? Onde que raio estiveste ?
Meus deuses ... há quanto tempo ...
Nicolae Santos disse...
19/1/10 17:14
Sim Nicky, sou eu.
;)
Vicky disse...
19/1/10 18:03
Em 1º lugar, esquece essa cena do Nicky ok. Quero manter um certo respeito entre as duas ou três pessoas que aparecem pelo meu blog e com esse tratamento vai ser difícil.
Em segundo lugar ... que aconteceu para ter notícias tuas 14 anos depois ? Como me descobriste ? Onde andaste ? Por que razão desapareceste sem explicação ? Não penses que não estou contente por teres aparecido, apenas gostava de saber o que te aconteceu desde aquela tarde no aeroporto.
Nicolae Santos disse...
19/1/10 23:24